Este texto resulta de um exercício etnográfico realizado junto a seguidores brasileiros da moda urbana Lolita, estilo japonês criado na década de 1970 e inspirado no vestuário de bonecas vitorianas combinado com elementos da cultura pop nipônica. A estética se difundiu a partir dos anos 1990. Exploro a experiência de vestir Lolita e, através desta, a percepção de si e a produção de individualidades associadas à performance de gênero. Procuro demonstrar como esta indumentária específica reitera o excesso como signo do feminino, mesmo quando usada sobre corpos de homens.
Revista do núcleo de antropologia urbana da USP 23 | 2018 Ponto Urbe 23 "A vó é uma dádiva. Ela não está mais lá, mas está em mim": jóias de família como narrativas de afeto "Grandma is a gift. She is no longer there, but she is in me": family jewelry as affection narratives
A trajetória da fotografia no Brasil se conecta à maneira como se construiu uma imagem de nação. Desde a chegada da primeira tecnologia de captação de imagens ao país, há 180 anos, até o presente, em que milhares de registros digitais são feitos diariamente, o ato de fotografar e interagir com esses retratos cotidianos se modifica, revela quem somos, ajuda-nos a compreender quem pensamos ser e nos faz indagar sobre que, afinal, somos. No caminho, importantes nomes do fotojornalismo e revistas ilustradas tiveram um papel fundamental para apresentar o país a boa parte da população. Esse é o argumento central do documentário Fotografação, de Lauro Escorel (2019), que entrou em cartaz em março de 2020 e teve sua carreira cinematográfica alterada por conta da pandemia de coronavírus, sendo exibido online em sessões gratuitas. A resenha procura conectar o contexto social da estreia do filme com a própria produção e, em concordância com Escorel, considera como trunfo da longa-metragem justamente o fato de mostrar que uma câmera voltada para si nos dias de hoje pode ser uma câmera voltada para o mundo, para quem somos e para quem pensamos ser num novo processo de construção de identidades.
Uma narrativa crítica sobre moda, economia, política, moral e estética que contempla produção e consumo, passado e presente, prazer e perigo. Assim é Fashion Victims: The Pleasures and Perils of Dress in the 19th Century (Vítimas da moda: os prazeres e perigos do vestuário no século XIX), exposição temporária instalada em junho de 2014 no Bata Shoe Museum (BSM), em Toronto, Canadá. Organizada por Elizabeth Semmelhack, curadora do museu, e Alison Matthews David, professora de História de Têxteis e Vestuário da The School of Fashion da Ryerson University, a mostra se encerraria em junho de 2016, mas foi estendida até abril de 2018. Graças à prorrogação, tive a oportunidade de vê-la em maio de 2017. [...]
Joia de família não é sinônimo de joia. Essa coisa – que pode ou não ser feita com metais nobres e gemas – apenas recebe a alcunha “de família” em processos sociais, ou seja, ao se enredar em ancestrais e ser repassada como herança. Acompanhada de narrativas, converte-se em elos de experiências e trajetórias entre vivos, mortos e aqueles que nem nasceram. Crônicas e performances acompanham seus movimentos e nos permitem acessar práticas e emoções recebidas e legadas entre gerações.A alegoria que Fabricio Barreto (fotos) e Aline Lopes Rochedo (texto) compõem na narrativa imagética aqui apresentada emerge de uma etnografia sobre transmissão de joias de família, pesquisa que resultará na tese de Rochedo em 2020. Em termos teóricos, a autora parte de Ensaio sobre a dádiva, de Marcel Mauss, publicado em 1925 e que ainda hoje incita reflexões. Rochedo tenciona identificar práticas e dinâmicas envolvidas em repasses de joias de família, coisas às quais se atribuem valores para além do econômico. Intenta, ainda, compreender o que esses processos revelam sobre a vida coletiva, observando como sujeitos vivenciam histórias e instituições nas quais as relações existem, contemplando marcadores simbólicos de gênero e classe.Este ensaio é uma construção parcial de realidades expressas pela cenógrafa Andrea Mazza Terra, moradora de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Embora reúna na tese mais de 40 casos de repasses geracionais de joias de família, Rochedo destaca as prosas desta interlocutora pela riqueza de sua fala para narrar a família. A pesquisa se iniciou com entrevistas, conversas informais e observação realizadas na casa de Andrea, entre fevereiro e abril de 2018, quando ela discorreu sobre o bracelete da baronesa, joia de família que, inicialmente, fora presente de casamento do barão de Santa Tecla à futura esposa, Amélia, avó de sua bisavó.Rochedo reencontrou Andrea em maio de 2018, desta vez com Barreto, para fotografá-la interagindo com sua joia de família, e a experiência jogou novas luzes sobre possibilidades de dádiva. Mas o desfecho desse roteiro improvisado e imprevisível só foi possível graças a Raphael Scholl, amigo que apresentou Andrea à Rochedo e cuidou do figurino para as fotos. Barreto e Rochedo construíram a narrativa de imagens numa tentativa de misturar vozes e percepções na composição de uma experiência cênica protagonizada por Andrea com ajuda de Raphael e do estilista Maurício Guidotti.As fotos foram feitas em maio de 2018, no sobrado cansado e cravejado de vitrais Tiffany onde a interlocutora nasceu e reside. Neste palco tão familiar herdado dos avós maternos, Andrea compôs sua opereta imagética sobre o bracelete de ouro e diamantes forjado em Paris no século XIX. O adorno que testemunhou o esplendor e a decadência da economia do charque pelotense nos anos 1920 conecta Andrea a cinco gerações de mulheres, da baronesa de Santa Tecla até a avó, Nóris, de quem recebeu a dádiva. Também a mantém algemada ao passado da família. À crônica atualizada e crítica às crueldades cometidas contra cativos pelos barões do charque soma-se o relicário novecentista que lhe foi transmitido por Nóris em vida. A interlocutora vela na caixinha de ouro baixo e alta estima a matriarca falecida no início dos anos 2000: “Se sou o que sou, se sou como sou, é tudo da minha vó. Fui criada por ela, e a consciência foi ela quem me deu. [...] Porque a história da escravidão foi negada sempre, e inventaram uma outra história, a de uma escravidão light”.
Resenha da coletânea Exploring materiality and connectivity in Anthropology and beyond, editada por Philipp Schorch, Martin Saxer e Marlen Elders, publicada em 2020.
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