Este texto analisa a obra de Orides Fontela, mostrando como a poeta aborda o silêncio e a morte de forma bastante pessoal, e, às vezes, inusitada.PALAVRAS-CHAVE: poesia, silêncio, nada, morte.
Nos poemas de Orides Fontela1 instaura-se uma busca. Busca pela palavra exata, pelo verso preciso, aquele que traduz a solidão que se coloca entre o sujeito e o mundo, entre a voz e o silêncio. Daí que essa busca descortine em sua obra uma estranha realidade, na qual as coisas surgem fragmentadas, reinterpretadas por um olhar que não quer isolá-las do mundo, mas, ao contrário, se fundir a elas e ao mundo. Em quase todos seus poemas, há uma clara negação da palavra em favor do silêncio, do nada, de maneira que, como afirma Antonio Candido, "os seus poemas partem da fixação com o nada, na tentativa de afirmar o ser, -que é o eu do poeta, mas, sobretudo, o poema realizado, atrás do qual ele se eclipsa" (Candido, 1983: 3).O ser afirmado pelo silêncio. Ou, conforme Marilena Chauí, uma "vigília lírica e irônica, que tem a força de um soco na boca do estômago mesclado ao esplendor do primeiro olhar" (Chauí, 1996: 9). Essa estranha declaração de Marilena Chauí talvez torne um pouco mais claro o que estamos tentando dizer aqui, ou seja, o fato de que a poesia de Orides Fontela tem uma dicção própria que, ao mesmo tempo em que estabelece um diálogo com tradições poéticas e filosóficas, traz para o cenário da poesia brasileira uma visão bem particular de mundo. E essa visão talvez seja o que mais chame a atenção.