O presente artigo interpreta o cenário do campo científico no Brasil contemporâneo à luz da teoria sociológica de Pierre Bourdieu. Nesse esforço, se debruça sobre o modo como Bourdieu produz uma teoria das classes, sugerindo que sua sociologia reorganiza o esquema marxiano na questão dos interesses. Reconstitui o modo como Bourdieu faz do habitus um conceito operativo, e aponta em que medida o habitus é cingido pela classe social. Na sequência, opera a análise referente a articulação estabelecida entre a classe e o habitus, evidenciando o quanto essa ligação atua na composição das categorias de percepção de mundo dos agentes. O artigo elege o conceito de auto-análise coletiva ou socioanálise coletiva de Bourdieu, colocando o campo científico brasileiro sob o crivo analítico. A interpretação elaborada indica que as rearticulações políticas dos últimos anos, em especial das classes médias, resultaram numa fragilização do campo científico brasileiro. Junto a isso, as reformas administrativas e cortes orçamentários do Estado colocam os pesquisadores em situação de conflito pela escassez de recursos. Por fim, o texto relembra algumas saídas produzidas por Pierre Bourdieu no contexto francês, quando a ciência está sob o ataque do neoliberalismo. Isso para fomentar, no horizonte de debates entre pesquisadores e cientistas brasileiros, a possibilidade de esboçar uma sociologia de autodefesa da autonomia do campo científico.
O artigo traz reflexões acerca do colonialismo como acontecimento moderno, percorrendo os processos eugênicos de racialização originados na Europa Ocidental. Opera a análise de múltiplas faces do racismo brasileiro, como injúrias voltadas a traços fenotípicos negróides, mobilidade social precária da população negra, e aspectos mitológicos da colonização, que regem o cotidiano das relações no Brasil sob o prisma racial. O trabalho se debruça sobre manchetes contemporâneas de grande repercussão, evidenciando a maneira como a racialização se traduz na manutenção de um estatuto colonial racista. Propõe uma chave de leitura do racismo brasileiro nos termos de um olhar psicopatológico. A psicopatologia negrofóbica se dá como produto de uma falsa-projeção sobre os corpos negros, vítimas de um homicídio ontológico e, portanto, cingidos pelo delírio racial. Por fim, sugere algumas formas teóricas e práticas para que possamos pensar outros horizontes junto as margens do social, municiando sublevações anticoloniais e antirracistas, incendiando o desejoso combate minoritário contra o panorama racista brasileiro.
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