O artigo trata da relação entre a preceptística retórica antiga – particularmente doutrinas relacionadas às imagines – e a composição literária antiga; mediante exemplos de Progymnasmata, uma série de tratados escolares de autoria de vários rétores gregos, como Aftônio, Hermógenes e Teão, discute a construção de imagens verbais e a importância desses exercícios escolares para a formação de oradores e poetas; e, além disso, arrola outros exemplos, retirados da Retórica a Herênio, de autoria anônima, do Sobre a Invenção de Cícero, do Tratado da Imitação de Dionísio de Halicarnasso e das Instituições Oratórias de Quintiliano. O objetivo fundamental do artigo é demonstrar três pontos de fundamental importância: a) que a imagem, na chave do exemplum, demonstra a proximidade das artes no que se refere a seus processos de composição que, por seu turno, associam-se ao binômio imitação/emulação; b) que, como não eram simples ornato, as imagens verbais poderiam contribuir positivamente para a eficácia do discurso, uma vez que, geradoras de pathos, convertiam-se em estratégia elocutiva eficiente para a causa; e c) o uso recorrente da Ekphrasis e do Retrato na prática de prosadores e poetas helenísticos e romanos.
Resumo: O presente artigo tem como objetivo principal discutir a representação de Eros na elegia romana a partir de exemplos tomados de poetas como Tibulo, Propércio e Ovídio. Buscar-se-á demonstrar que a imago do deus entre os poetas elegíacos romanos serve tanto para figurar, alegoricamente, a própria poesia elegíaca e o sofrimento amoroso, pois que o deus figura a militia amoris e a seruitium amoris, como para representar o éthos da persona loquens elegíaca. Nesse sentido, Eros, bem como a incorporação, em dimensão poética, de imagens de natureza bélica, é expediente programático, já que mediante estratégia visualizante os poetas elegíacos figuravam princípios retórico-poéticos do gênero. Palavras-Chave: Eros; elegia; poética; retórica; sofrimento amoroso.Abstract: This paper aims to discuss the representation of Eros in the Roman elegy from examples taken from poets such as Tibullus, Propertius and Ovid. We seek to demonstrate that the imago of the god among the Roman elegiac poets serves not only to figure, allegorically, the very elegiac poetry and the love suffering itself -because the god figures the militia amoris and the seruitium amoris as well -but also to represent the ethos of the elegy's persona loquens. In this sense, Eros, and the incorporation in poetic dimension of military content images, is a
O presente artigo tem como objetivo principal discutir, a partir da ékphrasis do casarão da família Maia, presente no início do romance Os Maias (1888) de Eça de Queirós, elementos que, estruturantes, convertem o espaço em alegoria que não somente é capaz de mimetizar o caráter das personagens, mas sobretudo, oráculo que é, figurar seu destino, especialmente dos protagonistas do romance português. É nosso intento demonstrar, pois, particularmente na descrição do espaço, a sobrevida de elementos típicos da tragédia antiga no romance de Eça de Queirós, entendidos como fundamentais para sua carga significativa.
O objetivo do artigo é apresentar tradução poética inédita de quatorze epigramas pertencentes ao livro Apoforeta, segundo as edições modernas, o décimo quarto livro de epigramas de Marcial. Os poemas que vertemos constituem um ciclo de epigramas todo ele dedicado aos livros com que, ao londo dos banquetes das Saturnais, os convivas poderiam ser presenteados. "Poemas-cartões" que eram, remetiam, de um lado, à função originária do epigrama como "inscrição", e, de outro, conforme a subespécie "enigma", da epigramática helenística, convidavam o destinatário presente a adivinhar o que ganhara, aspecto que se relacionava com o caráter lúdico da festa. Mas também podiam os epigramas do ciclo ser compreendidos como "biblioepigramas", já que, na brevíssima descrição da obra literária, Marcial tanto fazia as vezes de poeta-filólogo, porque ao tecer juízos poéticos e retóricos assumia discurso crítico, como de poeta-bibliófilo, ao remeter o leitor à materialidade do livro. O livro como objeto indica para o leitor de hoje o matiz helenístico com que o poeta, incorporando a tradição precedente, a julgava e para o público antigo cumpria a função precípua e imediata do mimo que, em virtude das belas encadernações, devia agradar os olhos antes de tudo.
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