Este artigo analisa o cotidiano das mulheres na cidade do Recife e a conquista do espaço público, entre os anos de 1870-1914. Sobre as novas práticas femininas pairavam temores antigos e modernos, ao pôr em questão a sociedade patriarcal, as relações entre os gêneros, o casamento e a pretensa superioridade masculina. Palavras-chaves: Mulheres; Transgressão; Trabalho.
Este artigo objetiva investigar a construção de novas formas de sociabilidades, práticas e a ressignificação do corpo feminino nos primeiros anos do Brasil República, na cidade do Recife, na década de 1920. Do ponto de vista teórico, este trabalho dialoga e se apoia nas reflexões de Joan Scott sobre o conceito de gênero e de Roger Chartier de representação. Por meio da análise de revistas publicadas na época, identificamos o quanto a melindrosa incomodava a sociedade, em um período marcado pelo fortalecimento da família nuclear burguesa e declínio da família patriarcal. As representações publicadas na imprensa maximizavam as características de um “novo padrão” adotado por mulheres e homens, na figura do almofadinha, adeptos da vida moderna. Em Recife e em outras regiões do país, o corpo se ressignificava inclusive nas noções de masculinidade e feminilidade. Ademais, o período em evidência ficou conhecido exatamente pelas modificações no que concerne às práticas sociais, e pelo advento da personagem em questão, que rompia com vários padrões da vida social.
Os anos iniciais do regime republicano dão asas aos desejos, fazem voar sonhos. A vida urbana ganha intensidade, luz, fluidez e velocidade. As novidades se espraiam pelas avenidas e pelos becos das grandes cidades. A eletricidade, o cinema, o automóvel, a locomotiva, o bonde, o avião, a publicidade, a moda, o relógio, o telefone, o rádio, os alimentos enlatados, os novos medicamentos e cosméticos, os cigarros e charutos industrializados, a prática de esportes, os banhos de mar, as confeitarias que se instalam em nobres endereços e as artes plásticas dão visibilidade a essas mudanças vertiginosas e de feições tão modernas.A cidade é um espetáculo a céu aberto. Se, de um lado, essas novidades geram fé e otimismo no progresso, por outro, desorientam, intimidam, perturbam, confundem, distorcem, alucinam. 1 Nesse cenário, as mulheres parecem gozar de maior liberdade, ao usufruir dos cafés, cinemas, da moda e das novas formas de sociabilidade. No entanto, sobre esse novo comportamento, pairam temores antigos e modernos de que esse 'excesso de liberdade' corrompa os cuidados com o 1 Nicolau SEVCENKO, 1998, p. 515-516. 42 Estudos Feministas, Florianópolis, 21(1): 41-57, janeiro-abril/2013 ALCILEIDE CABRAL DO NASCIMENTO lar, coloque em perigo a família e a honra feminina. Ademais, algumas mulheres, oriundas da classe média e alta, alçam outros voos para além do lar. Acadêmicas, médicas, advogadas, professoras e funcionárias públicas são algumas das profissões que empoderam o sexo feminino, abrem horizontes e novos questionamentos nas relações de gênero e na esfera política, da qual elas se encontram excluídas.O problema, que já se coloca nos anos iniciais do regime republicano, é a estreiteza com que se compreende a cidadania e a noção de esfera pública moderna, na vigência da 'república dos coronéis', na qual só votam homens, maiores de 21 anos e alfabetizados, em eleições duvidosas. Afinal, onde reside a diferença entre homens e mulheres que alimenta a exclusão feminina da arena política? Esse parece ser o 'x' da questão colocada por diferentes feministas do Recife e de outras capitais, onde as mulheres discutem, debatem e questionam sua exclusão dos espaços públicos de decisões políticas.A partir disso, neste artigo, 2 averiguo os argumentos das feministas pernambucanas em prol da igualdade de direitos políticos, que passavam pelo questionamento da diferença entre homens e mulheres, e tinham como base o problema que a democracia republicana instaurou, ao abolir o voto censitário e criar a divisão sexual na esfera política. Também, avalio a estratégia política do movimento sufragista que, se de um lado objetivou a emancipação das mulheres de forma pacífica, por outro, atiçou o desejo feminino, ao almejar mais do que o direito de votar e de concorrer a votos.Em nome do desejo: os direitos políticos Em nome do desejo: os direitos políticos Em nome do desejo: os direitos políticos Em nome do desejo: os direitos políticos Em nome do desejo: os direitos políticos nas vozes das mulheres nas vozes das mulheres nas voz...
O presente artigo tem por objetivo propor uma reflexão sobre as condições que levaram uma parte das mulheres a interpelar o poder judiciário para garantir/acessar os direitos políticos no Rio Grande do Norte a partir de 1927. Algumas autoras/es como Carole Pateman, Flávia Biroli, Luís Felipe Miguel, Elisa Reis, Donna Haraway são lastros teóricos que permitem refletir sobre o feminismo liberal, direitos políticos e cidadania, conceitos fundamentais para se compreender a inclusão de novos grupos no jogo político nesse período. Com base na análise de um corpus documental diversificado – jornais, atas, correspondências, leis, entre outros – se avança na compreensão histórica da mobilização e da luta das mulheres pelo direito ao voto. A campanha pelo alistamento e a participação de parcela das mulheres nas eleições, como eleitoras e candidatas nesse pequeno estado do País, fortaleceu a mobilização pelo sufrágio em nível nacional, alcançado em 1932. A história da Primeira República precisa ser revista e narrada também a partir da contestação dos movimentos feministas, em especial a atuação da Federação Brasileira para o Progresso Feminino, que foram fundamentais para ampliar os direitos políticos e sociais às mulheres que desobedeceram, questionaram, criticaram e lutaram pela democracia no País.
Entre os anos de 1840 e 1860, a assistência social no Recife foi duramente criticada, em particular a que era destinada às crianças expostas e à instituição responsável por elas: a Casa dos Expostos. Neste artigo procuro historicizar as tentativas do discurso médico de construir uma noção de salubridade, de organização e gestão das crianças abandonadas e pobres asiladas na Casa dos Expostos que se confronta com os costumes e as práticas caritativas arraigadas profundamente na cultura. A força do discurso médico-higienista ganha concretude com a aprovação do Regulamento dos Estabelecimentos de Caridade de 1847. Mas a tentativa de regular, ordenar, limpar, vigiar e instituir um meio salubre e higiênico se confronta com formas variadas de vida e respostas emanadas das crianças, mulheres, amas de leite e famílias pobres, que não apenas resistiam às tentativas de controle e regulamentação de sua vida, mas também faziam usos diversos da Instituição. O saber médico precisou de mais tempo e de muitos embates, com diferentes formas de vida e de reinventar no mundo, para galgar hegemonia sobre a população e a cidade, bem como para estabelecer um discurso homogêneo dentro de suas próprias fronteiras. Mas sua vitória não se deu sem conflitos, além de ter sofrido algumas derrotas.
Este trabalho tem como objetivo analisar a atuação da Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino (FPPF) na luta pela expansão dos ideais democráticos de igualdade civil, direito ao trabalho e à educação para mulheres na década de 1930. Para isso, utilizamos como fontes os periódicos recifenses que circulavam na época e os relatórios de atividades da FPPF enviados ao Rio de Janeiro para sua matriz, a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Como suporte teórico utilizamos o trabalho de Joan Sott (1989) que elenca a categoria gênero como útil para análise histórica, assim como a Nova História Política, utilizando o conceito de Cultura Política nas análises acerca da construção de uma cultura política feminista no Brasil. Essas análises nos permitiram compreender o movimento feminista como um importante fator para a expansão e conquista dos direitos sociais, na luta pela consolidação e ampliação da democracia no Brasil.
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