Avaliar o alcance de seu próprio projeto fenomenológico sempre foi motivo de preocupação filosófica para Husserl. Talvez por isso, ele nunca tenha cessado de reformular seus conceitos e suas teorias, visando a um grau cada vez maior de profundidade. Tal interesse pelos limites da fenomenologia husserliana prossegue na atividade de seus intérpretes. Neste artigo, pretende-se apresentar e discutir algumas dessas leituras, procurando-se realçar que a estratégia de privilegiar componentes éticos para pensar os limites da fenomenologia de Husserl não constitui alternativa fecunda. A discussão deve privilegiar parâmetros ontológicos, a partir da abordagem de conceitos-chave corretamente selecionados, em especial os conceitos de infinito e de presente vivo.
SÍNTESE -Baseado no cogito cartesiano, mas também o submetendo a importantes reformulações, Husserl desenvolve o seu próprio conceito de subjetividade transcendental. Tais reformulações concernem, sobretudo, aos tópicos do tempo, da redução e da intersubjetividade. O presente artigo pretende apresentar e discutir como se vinculam tais temas, visando a contribuir na compreensão do estatuto do transcendental na fenomenologia husserliana. PALAVRAS-CHAVE -Husserl. Subjetividade transcendental. Tempo.ABSTRACT -Based on Cartesian cogito, but also submitting it to important reformations, Husserl develops his own concept of transcendental subjectivity.These reformations concern especially the topics of time, reduction and intersubjectivity. This article intends to present and discuss the link of these themes, aiming contribute to the comprehension of the status of transcendental in husserlian phenomenology. KEY WORDS -Husserl. Transcendental subjectivity. Time.No final do segundo parágrafo da obra Meditações Cartesianas, Edmund Husserl adverte em tom enfático: "É evidente que observaremos uma extrema prudência crítica, sempre prontos a transformar o antigo cartesianismo onde necessário. Deveremos também esclarecer e evitar certos erros sedutores de que nem Descartes nem seus sucessores souberam evitar a cilada". Tal circunspecção permitiria detectar duas grandes omissões cartesianas no tratamento do cogito: a primeira concernente à falta de exploração cabal do caráter metódico da dúvida, que impediu a abertura ao âmbito da epokhé; a segunda decorrente da negligência quanto ao caráter necessariamente intencional da consciência. Privada desses ajustes, a descoberta arquimediana do filósofo francês encontrava-se fadada a permanecer estéril. Descartes, influenciado pelo modus operandi e pelas conquistas das ciências matemáticas, teria transposto os métodos destas para a investigação filosófica, acabando por transformar o cogito em fundamento inconcusso, axioma que sustenta uma sofisticada cadeia dedutiva.A redução fenomenológica, da maneira como Husserl a propõe, não se limita à passagem da atitude natural à atitude transcendental, mas implica, sobretudo, * UNIOESTE (PR).
Quando elabora a terceira seção de Idéias I,1 e em especial o parágrafo 70, Husserl lega a seus intérpretes uma difícil tarefa. Embora estudos já clássicos, como os de Eugen Fink e Maria Manuela Saraiva, tenham de algum modo tratado das implicações filosóficas da referida seção, novas abordagens parecem pertinentes. Sobretudo, após a publicação em 1980 do volume 23 da Husserliana, referente às presentificações intuitivas. O artigo estrutura-se a partir de três objetivos nucleares: 1) expor e discutir os conceitos e argumentos decisivos da terceira seção de Idéias I, examinando a interpretação dos comentadores clássicos acima mencionados; 2)apresentar e debater as principais contribuições filosóficas trazidas pelo volume do Nachlass ao tratamento dos temas da consciência imaginativa, da fi cção e do método fenomenológico husserliano, conectando-as à tessitura argumentativa dos referidos trechos de Idéias I; 3) examinar o alcance de algumas interpretações contemporâneas dos temas a partir do exposto nos itens anteriores.
Na filosofia contemporânea, um dos temas predominantes é a questão do transcendental. Este artigo pretende tratar da questão a partir do debate entre Husserl e Heidegger. Partindo dos textos pontuais de ambos os pensadores e de um artigo de Jean-François Courtine sobre o tema, procura-se mostrar em que medida e segundo quais operadores conceituais as duas abordagens se aproximam e se distanciam.
RESUMO. O artigo expõe e discute como Edmund Husserl se apropria da história da filosofia para desenvolver suas próprias concepções fenomenológicas. Desde os gregos até a contemporaneidade desenvolve-se um mesmo fio condutor teórico que culmina com a formulação da redução fenomenológica e da subjetividade transcendental.Palavras-chave: Husserl, história da filosofia, redução, racionalidade.ABSTRACT. Husserlian reading of the history of Philosophy. The article explains and discusses how Edmund Husserl apropriates the history of philosophy to develop his own phenomenological conceptions. Dating back from the Greeks until modern times, one same theoretical orientation was developed, which culminates with the formulation of the phenomenological reduction and of the transcendental subjectivity.Key words: Husserl, philosophy history, reduction, rationality. Introdução Introdução Introdução IntroduçãoNo volume inicial da obra Filosofia primeira, que reúne as lições dadas por Edmund Husserl durante 1923 e 1924 na Universidade de Freiburg, o pensador alemão aborda de modo singular a história da filosofia, colocando-a sob os auspícios da fenomenologia. Destacam-se os nomes de Platão, Descartes e Kant. Platão é considerado o marco inaugural de uma crítica radical da razão, mediante a qual se desenvolve uma metodologia universal absolutamente autojustificável, com fundações absolutas, desembocando em uma ciência da totalidade dos princípios puros de todos os conhecimentos possíveis e da totalidade das verdades puras que encerram esses sistemas de conhecimentos. Programa fundante que se consolida na obra de Descartes. A filosofia cartesiana retoma a luta contra o ceticismo e, mais diretamente, contra o subjetivismo de toda a tradição cética, que nega a possibilidade de todo conhecimento objetivo. A obra cartesiana se propõe a combater as argumentações céticas desde o âmbito em que essas se instauram, ou seja, desde a subjetividade cognoscente certa de si mesma. O cogito é o ponto arquimediano sobre o qual se apoiará a edificação sistemática e absolutamente segura da verdadeira filosofia. Inaugura-se um subjetivismo transcendental, sem compromissos com o ceticismo. Tal subjetivismo transcendental vislumbrado por Descartes encontra sua formulação mais coesa em Kant. A grande contribuição kantiana consiste na exigência de abandonar a atitude natural de conhecimento, mediante a elaboração de uma ontologia formal do mundo objetivo, articulada em um sistema transcendental unitário de conceitos e de princípios fundamentais.Apresentar e discutir a importância desse diálogo com a história da filosofia para a elaboração da fenomenologia husserliana, eis o propósito norteador do presente trabalho. Pretende-se, sobretudo, pensar os laços conceituais e metódicos entre a fenomenologia em sua versão inaugural e a tradição filosófica. Todo diálogo entre pensadores implica em um deslocamento semântico e sistemático, em que não se aplica o critério estrito de fidelidade ou infidelidade, correção ou incorreção no vínculo entre predecessores e ...
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Partindo-se do caso paradigmático de Zaratustra, procura-se mostrar como os procedimentos tipológicos e hierarquizantes desempenham um papel decisivo, mas paradoxal, no pensamento de Nietzsche, mormente na última etapa de sua produção filosófica. Se, por um lado, a tipologia constitui uma fecunda abordagem descritiva das configurações humanas de potência, a hierarquização, ao implicar numa postura intervencionista, parece comprometer o alcance das meras descrições tipológicas.
Destaco, inicialmente, um aspecto positivo e dois aspectos negativos, no âmbito geral da abordagem adotada no artigo de Alt (2021): 1) A assunção, enquanto fio condutor da análise, tanto de maneira explícita quanto implícita, da noção de pré-reflexividade; 2.1) Dispersão de textos sartrianos mencionados e/ou citados, compreendendo de maneira uniforme escritos de momentos díspares do conjunto da obra filosófica do pensador francês; 2.2) Dispersão de intépretes e/ou filósofos mencionados e/ou citados, abrangendo um leque temático excessivo, em relação ao requerido pelo assunto proposto no artigo. 2 Trata-se de escolhas expositivas legítimas enquanto tais, mas que, no meu entender, comprometem a profundidade e a fecundidade filosóficas do que é efetivamente relevante e/ou irrelevante, na concepção sartriana de consciência/inconsciência, reflexividade/irreflexividade/pré-reflexividade.
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