Working-Class Neighbourhoods in Lisbon. Republican Hygienist Policies, Circulation of Workers and Capital

Epidemias e os avisos surdos da história

“…O alojamento desta população fazia-se em condições deploráveis, em casas sobrelotadas e insalubres, às vezes mesmo em barracas (18), o que motivou, a partir de meados do século XIX e no âmbito de uma reflexão crescente sobre a "questão social", uma atenção especial sobre o alojamento operário. Protagonizaram este debate, naturalmente a classe política, mas, também, os experts, nomeadamente médicos e engenheiros, e os empreendedores ligados à indústria (19). Sob o novo regime republicano, profundamente moldado pelos ideais de racionalidade que subjazem à ciência e à tecnologia e pela vontade de, à luz destes princípios, criar um "homem novo", a "questão social" redimensionou-se numa dimensão moral que encontra no tema da higiene o elemento aglutinador e legitimizador para a reforma do espaço urbano, quer privado, quer público, neste se incluindo as infraestruturas convencionais e as que dotam a cidade de inovadores espaços verdes 8 (20,19,11).…”

“…De entre os muitos artigos sobre a desejada Lisboa operária higienizada e republicana, o Lisboa Monumental, de Fialho de Almeida, publicada em 1906 na Ilustração Portuguesa (10,19,22,23), sinaliza de forma clara o tipo de alojamento e de bairro para o operariado que se pretendia implementar na cidade, moldado pelos ideais republicanos e saint-simonianos e capaz de estabelecer uma profilaxia estável e de longa duração das epidemias que se alimentavam da pobreza e da insalubridade.…”