O processo de um doutorado exige dedicação, sacrifício e aprofundamento. Exige que se olhe para o tema da pesquisa dessa forma, mas exige, em consequência, um mergulho em si próprio, um certo isolamento, uma avaliação constante das próprias limitações, uma procura constante, uma busca, para ir mais fundo, para superá-las. Um doutorado toma espaço, estantes de livros cada vez mais cheias, pilhas de leituras e reflexões, perguntas, respostas, respostas gerando mais perguntas, a ausência de respostas e o tempo. O tempo passa, a vida acontece, indiferente à decisão de se escrever uma tese. Durante meu tempo como doutoranda, a vida seguiu, a vida não deu pausa e não pediu licença. Minha mãe, já em estado avançado do Mal de Alzheimer, veio morar conosco e, com ela, uma equipe de cuidadores, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, uma rotina diferente e plena de demandas, administrativas, burocráticas e emocionais. Minha mãe partiu durante o meu doutorado. Com sua partida veio o inevitável e necessário luto, a sensação de ter cumprido a missão e a tomada de decisões burocráticas, administrativas, desgastantes para finalizar os processos exigidos em nossa sociedade quando alguém se vai: Inventário, contas, decisões, saudades e o doutorado. A decisão de tentar uma bolsa no exterior veio a seguir. Uma decisão que para uma doutoranda, na minha faixa etária, na minha etapa de vida, precisava acontecer como um projeto de família. Não podia ser só eu. Incluía minha filha de cinco anos, na época, e meu marido. Conversas, planejamento, contas a fazer e a decisão de buscar a experiência. Ponderações no âmbito pessoal fizeram parte do processo. Na fila de adoção há quatro anos, fizemos as contas e chegamos à conclusão que ainda esperaríamos, pelo menos, dois anos para que nosso(a) filho(a) chegasse. Então pensamos: "Melhor viver, partir, voltar, enquanto esperamos!" Seis meses depois, inscrita para a bolsa da Fulbright, segunda fase da seleção, faltando apenas a entrevista, aceita na Indiana University, pela professora doutora Darlene Sadlier, recebo um telefonema da Vara de Infância: "Sua filha chegou!" A vida não espera! Abrimos os braços e o coração. Novas conversas, novas providências, autorizações judiciais para levar uma criança de um ano e meio para o exterior, uma criança ainda em processo de adoção. Leituras do doutorado, vistos, providências, solicitação de licença do trabalho do marido, escolas e creches, casa nova, língua nova. Segui para os Estados Unidos dois meses antes do resto da família, Ser mãe pela Internet, pelo Skype não foi fácil e foi preciso conciliar a minha existência virtual com aprendizados, diálogos instigantes, novos colegas, novas ideias, saudades da família, providências para a chegada da família, mais leituras, aulas, longas leituras. A sensação de que a vida na cidade universitária de Bloomington seria uma experiência transformadora, não só para mim, como para minha