RESUMOOs seres humanos intervêm frequentemente na natureza por razões antropocêntricas ou ambientalistas. Um exemplo de intervenção consiste na reintrodução de lobos em áreas previamente habitadas por eles com a finalidade de se criar o que é conhecido como "ecologia do medo". Na primeira parte deste artigo, discutemse as razões que têm sido utilizadas em favor dessa medida, e explica-se por que são incompatíveis com um enfoque não especista. Para tal, expõem-se os motivos pelos quais tal medida prejudica notavelmente animais como os cervos, sem tampouco ser benéfica para os próprios lobos. Em seguida, argumenta-se que, se abandonamos uma perspectiva especista, devemos mudar por completo o modo pelo qual intervimos na natureza. Em vez de intervir por motivos ecologistas ou antropocêntricos, nosso objetivo ao fazê-lo deve ser o de reduzir os danos sofridos pelos animais não humanos. A visão idílica segundo a qual os animais não humanos vivem vidas paradisíacas na natureza é completamente incorreta, e de fato há fortes razões para considerar que o sofrimento e a morte prematura prevalecem de forma clara sobre o bem-estar desses animais. Isso faz com que seja ainda mais importante que nosso objetivo seja melhorar sua situação e darlhes nossa ajuda, em vez de causar-lhes danos. Todavia, esse objetivo entra em conflito de maneira significativa com alguns ideais ecologistas fundamentais cuja defesa não é compatível com a consideração dos interesses dos animais não humanos. Palavras-chave: antropocentrismo, ecologia do medo, especismo, intervenção.
ABSTRACTHumans often intervene in the wild for anthropocentric or environmental reasons. An example of such interventions is the reintroduction of wolves in places where they no longer live in order to create what has been called an "ecology of fear", which is being currently discussed in places such as Scotland. In the first part of this paper I discuss the reasons for this measure and argue that they are not compatible with a nonspeciesist approach. Then, I claim that if we abandon a speciesist viewpoint we should change completely the way in which we should intervene in nature. Rather than intervening for environmental or anthropocentric reasons, we should do it in order to reduce the harms that nonhuman animals suffer. This conflicts significantly with some fundamental environmental ideals whose defence is not compatible with the consideration of the interests of nonhuman animals.