A criação de associações canábicas vem se disseminando pelo Brasil como a principal estratégia dos usuários/pacientes para conseguirem ampliar o acesso ao uso terapêutico de cannabis medicinal, atualmente um produto caro e restrito nos moldes da legislação brasileira. O pertencimento a um coletivo social que tem no uso, no autocultivo, no estudo da cannabis e no compartilhamento de experiências a sua razão de ser, é um dispositivo que amplia o acesso para o uso terapêutico desta planta, constrói mecanismos para a busca da legalização destas práticas e transforma os velhos estigmas estabelecidos sobre uso de cannabis. No entanto, a construção de uma outra subjetividade para o uso de cannabis, diferente da dicotomia crime x uso farmacêutico-medicinal, parece ser imprescindível para compreender a sua ação como cultura criadora de formas de existência singulares e potentes. Neste estudo qualitativo, se configura uma pesquisa cartográfica a partir das relações de um médico-pesquisador-usuário e consultor em cannabis, que atende pacientes inseridos em uma rede associativa canábica em Minas Gerais e no Piauí. Este estudo procura, nestes encontros com cultivadores/pacientes/usuários/médicos/advogados/ativistas, compreender como este movimento micropolítico, constituído pelas redes associativas de cannabis, opera nas transformações das subjetividades criadas em torno do uso desta planta. O estudo evidencia alguns dispositivos que este movimento produz para transformar a percepção negativa do uso da cannabis, indo em direção à construção de territórios existenciais vitalizantes, fugindo da dicotomia restritiva uso medicinal ou recreativo.