Ways of Seeing

REALIDADES E RECRIAÇÕES: PERCEPÇÃO E PRÁTICAS DE INTEGRAÇÃO DE ADEREÇOS TÊXTEIS NO MUSEU DE ARTES DECORATIVAS PORTUGUESAS EM LISBOA</p> <p>Realidades y recreaciones: percepciones y prácticas de integración de aderezos textiles en el Museo de Artes Decorativas Portuguesas en Lisboa.

“…1 Como um projecto multidisciplinar recentemente demonstrou, 2 o estudo dos têxteis domésticos é essencial para o entendimento tanto da experiência vivida no passado como da experiência dos visitantes modernos a espaços domésticos históricos. 3 Ciente de que o processo de observação de obras de arte se constitui como uma actividade culturalmente construída e condicionada pelo tempo e pelo lugar, logo, influenciada por factores culturais específicos de um determinado período, 4 destina-se o presente texto a averiguar o modo como aqueles compartimentos foram sendo experienciados ao longo do tempo. Simultaneamente, pretende-se aferir a condição dos têxteis na referida exposição, a partir do confronto entre a proposta expositiva e aquela que seria a realidade contemporânea.…”

“…Análises atentas e sistemáticas vocacionadas para os objectos têxteis em inventários de bens e outras fontes documentais, relacionadas com acervos patrimoniais datáveis do período Moderno, demonstram o peso e a expressividade desta componente nos interiores domésticos numa dimensão difícil de percepcionar na actualidade. Como diversos estudos têm sublinhado em anos recentes, os têxteis sobressaem como o elemento mais omnipresente da decoração dos interiores domésticos durante o período moderno, 40 e os grandes protagonistas dos palácios barrocos, 41 cobrindo praticamente todas as superfícies. Esta parece ser uma constatação transversal, válida para as múltiplas realidades europeias, entre as quais se inclui a portuguesa.…”

“…42 Os têxteis definiam a natureza e estatuto dos interiores domésticos em função da escala social. 43 No seu todo, prefiguravam-se como complexos e sofisticados sistemas de comunicação e de representação (de convenções, normas e rituais sociais e culturais), 44 quando não estruturais do espaço vivencial, 45 que muito ultrapassam o mero lado funcional e ornamental que lhes é mais visível. Aparentemente, Ricardo Espírito Santo tinha percepção do protagonismo dos têxteis, mas sobretudo nesta última vertente, nomeadamente, do seu contributo na recriação de ambiências faustosas.…”