Vivências maternas em situação de morte fetal

Abstract

Portugal regista uma taxa de mortalidade perinatal de 3,5% em 2019, verificando-se assim, um dos valores mais baixos nos últimos 10 anos. A morte fetal é uma das experiências mais traumáticas que a mulher pode experimentar. Objetivo: Analisar os sentimentos/vivências das mulheres em situação de morte fetal. Metodologia: Assenta num estudo transversal, descritivo com uma abordagem qualitativa. Amostragem não probabilística, de conveniência. Incluiu 10 entrevistas semiestruturadas a mulheres que vivenciaram morte fetal. Utilizado software IRaMuTeQ , versão 0.7 alpha 2. Resultados: As mulheres encaram a morte fetal como uma experiência dolorosa, é evidenciada a transmissão da notícia da morte fetal, como fria e pouco humana. Demonstram satisfação nos cuidados prestados pelos enfermeiros EESMO ao salientarem a componente relacional. As mulheres ressaltaram a falta de informação e de preparação para a alta. Conclusão: Desenvolvimento de atividades formativas direcionadas aos enfermeiros que contactam com situações de mulheres que vivenciam morte fetal, no sentido de realizarem uma prática baseada em evidências científicas, nomeadamente no que concerne à comunicação e relação interpessoal.

The psychological impact of Early Pregnancy Loss in Portugal: incidence and the effect on psychological morbidity

“…We believe that there are some factors that could have modulated our results. Most participants in all groups indicated that the clinical cause of their loss was unknown (70.2–81.5%), a factor that has been reported to influence negatively the parents’ grieving, closure, and recovery process ( 18 , 46 ). Additionally, other factors related to the event, such as the presence of social support, or the healthcare management, might have also played a part in the persistence of mental health complications in some individuals ( 22 ).…”

“…In fact, the research found has been mostly focused on the parents’ experience and feelings faced after the loss [e.g. ( 45 , 46 )]. Such studies have undoubtedly provided essential information to understand these women’s emotional experiences, but generally provide no rigorous data regarding the actual proportions of these women that might be in need of help in terms of complicated psychological responses.…”

Experiência de enfermeiras obstetras no apoio às mulheres diante da morte fetal

“…Sentimentos esses que são intensificados quando o processo acontece longe de familiares, em unidade hospitalar e rodeado de profissionais desconhecidos, ambiente estranho e procedimentos invasivos. [3][4] No contexto hospitalar, os profissionais de enfermagem são aqueles que estão constantemente prestando os cuidados, portanto mais próximos dessas mulheres e deles se espera o apoio, um cuidado com comunicação compassiva, entretanto, nem sempre estes profissionais estão preparados para fornecer o devido suporte e/ou sabem lidar com tal situação.…”

“…Tais vivências auxiliam na compreensão da perda, no enfrentamento do luto auxiliando o processo fora do ambiente hospitalar e contribui para uma assistência humanizada, sendo o enfermeiro obstetra o principal elo do cuidado. 13,15 Corroborando com o estudo acima, vivenciar o luto, valorizar o sofrimento desta família permitindo o encontro com o bebê é essencial para o reconhecimento da perda do filho, e cabe à família decidir se terá ou não contato com a criança, mesmo sem vida, a fim de proporcionar possíveis lembranças. A importância de a mãe conhecer seu filho, tocá-lo, auxiliará no processo de elaboração da perda e enfrentamento da realidade durante o processo do luto.…”

“…19 Torna-se evidente a importância de capacitações, atividades formativas e momentos de reflexões direcionados para os enfermeiros que vivenciam situações de mulheres com diagnóstico de óbito fetal, atividades estas que possibilitam oportunidades de fala e escuta, proporcionando condições para que os mesmos sejam ouvidos, propiciando a oportunidade de expor suas angústias, discutir e refletir sobre os eventos vivenciados no serviço com práticas baseadas na comunicação e relação interpessoal. 15,17…”