Os ambientes virtuais 85 têm se tornado um espaço importante para a proliferação de violência política de gênero. Categorizada recentemente, essa violência possui punição regulamentada no Brasil pela lei n.º 14.192 86 , de 2021, e se expressa pela prática de ameaçar, prejudicar, assediar, humilhar, uma candidata ou uma mulher eleita, por se identificar como mulher. Trata-se, portanto, de uma violência política em razão do gênero e pode ser feita em relação à própria pessoa ou a seus familiares.Laura Albaine (2015) lembra que, desde 1993, as Nações Unidas e, desde 1994, a Convenção de Belém do Pará já estabeleciam como violência de gênero qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte ou sofrimento físico ou psíquico, seja esta realizada tanto no espaço privado quanto no espaço público. Deste modo, já se falava de violência de gênero na esfera pública na década de 1990, o que não significa dizer que, em décadas anteriores, as mulheres que ansiavam ou que ocupavam lugares na política não tenham sido alvo de violência política de gênero. Entretanto, o que temos assistido nos últimos 10 anos, com o aparecimento das redes sociais em ambientes virtuais, é o crescimento de ataques, cada vez mais sofisticados e em larga escala, contra mulheres candidatas ou que ocupam lugares no cenário político.Pode-se afirmar que as políticas que visaram, desde a segunda metade dos anos 1990, o aumento do número de mulheres em cargos de poder político no Brasil, como as leis de cotas, provocaram reações em setores conservadores e reacionários e, consequentemente, o crescimento de ações de violência política de gênero. Apesar da política de cotas, inúmeras pesquisas têm apontado para a ausência das mulheres em espaços de poder no Brasil como resultado dessa violência, ressaltando, dessa forma, as dificuldades enfrentadas pelas mulheres em pleitos eleitorais, e quando assumem os mais diferentes mandatos políticos (D'AVILA, 2021;ARAUJO, 2016; MIGUEL e BIROLI, 2011). Neste capítulo, demonstraremos como os ambientes virtuais se tornaram centrais na propagação da violência política de gênero, contribuindo, em certa medida, para a baixa inserção de mulheres na esfera política. Para tanto, analisamos as expressões de violências por meio de uma 84 Este texto foi escrito com referências e fontes oriundas do projeto "Internet como campo de disputas pela igualdade de gênero" coordenado pela Professora Dra. Cristina Scheibe Wolff, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc). 85 Chamamos de espaços virtuais as plataformas das redes sociais como Facebook, Instagram, YouTube, WhatsApp e X (antigo Twitter).