Como é que os vassalos portugueses pensavam a natureza e a humanidade da Amazónia em finais de Setecentos? Este artigo pretende refletir sobre esta questão, centrando-se no naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira e na memória intitulada “Observações gerais e particulares sobre a classe dos mamíferos”. Organiza-se em três partes. A primeira refere-se à polémica do Novo Mundo e aos esforços desenvolvidos pelos pensadores europeus para explicar, conceptualizar e classificar a diversidade biológica, social e cultural dos seres humanos e o lugar ocupado pelos povos nativos americanos nas escalas hierarquizadas civilizacionais da humanidade. Na segunda, consideram-se as críticas que criollos e luso-brasileiros fizeram a partir das periferias imperiais às teorias filosófico-científicas sobre a natureza, os habitantes e a história da América em função dos seus conhecimentos e experiências. Na terceira, aborda-se um estudo de caso centrado em Alexandre Rodrigues Ferreira e nas observações sobre o homem americano, considerados como exemplos claros de como as elites intelectuais portuguesas estavam informadas e participaram no debate científico.