A ruptura e a conseqüente fistulização de vasos linfáticos dilatados para dentro de qualquer segmento do trato urinário leva ao extravasamento de linfa, que se junta à urina e produz clinicamente o que é denominado de quilúria. Cerca de 80% a 90% da gordura da dieta é absorvida pelos linfáticos lácteos do intestino na forma de quilomícrons * , o que confere o aspecto leitoso à linfa e, conseqüen-temente, à urina que contém essas partículas. Esta lipoproteína é sintetizada na mucosa intestinal e transporta a gordura absorvida via canais lácteos, ducto torácico, até o coração direito, ganhando o sistema sangüíneo.A quilúria é normalmente classificada como tropical (ou parasitária) e não tropical (ou não parasitária)
1. Normalmente, o termo "tropical" é usado como sinônimo de quilúria determinada pela filariose bancroftiana, que é endêmica em mais de 80 países e acomete cerca de 100 milhões de pessoas 2 . Não se conhece a real prevalência da quilúria, tanto nas áreas endêmicas como nas não endêmicas, mas sabe-se que ela é pouco freqüente nas regiões de clima temperado. Entre as etiologias menos comuns, encontra-se a obstrução da drenagem linfática devido às neoplasias, às doenças inflamatórias crônicas (como a tuberculose) e ainda aos traumatismos, principalmente os abdominais. Malformações linfáticas 3 também podem determinar quilúria que, quando surge logo no período neonatal, tem prognóstico reservado. A gravidez também é apontada como causa de quilúria em pacientes com algum fator de risco associado. A migração ectópica de parasitos intestinais pode, embora raramente, causar
RESUMOA ruptura ou fistulização de vasos linfáticos para o interior do sistema excretor urinário dá origem à quilúria, que tem na bancroftose a sua principal etiologia. Pode ser, raramente, também causada por neoplasia, malformação linfática, traumatismo abdominal, assim como outras doenças infecciosas como a tuberculose. Os autores propõem as diretrizes gerais para a condução do portador de "urina leitosa" em áreas endêmicas e não endêmicas de filariose bancroftiana. Ressaltam a importância dos exames de triagem e de outros mais sofisticados para uma investigação etiológica a partir da realização de anamnese e de exame físico criteriosos. Enfatizam a necessidade de que a doença deve ser conduzida através de uma abordagem mais abrangente, que compreenda, além da médica, a assistência social e a nutricional. Na grande maioria dos casos, o controle da quilúria está basicamente fundamentado na educação e na adequação do paciente a uma dieta hipolipídica/hiperprotéica e rica em líquidos.UNITERMOS: Quilúria. Wuchereria bancrofti. Investigação clínica. Dieta. Clubes da esperança. Diagnóstico diferencial. Malformação linfática.quilúria. Em alguns casos, o diagnóstico etiológico da quilúria não tropical permanece um desafio, apesar da disponibilidade de um rico armamentário de diagnóstico complementar 4 . Na doença bancroftiana, o sistema linfático se torna incompetente pela linfangiectasia que, diferentemente do que se acreditava no passado, é de...