Este artigo tem como objetivo realizar uma reflexão e apresentar uma síntese acerca de como o conceito geográfico culturalista de paisagem tem sido empregado nas pesquisas arqueológicas que estão sendo levadas a cabo em Serra Negra, face nordeste da Serra do Espinhaço Meridional, Alto Vale do Araçuaí, Minas Gerais. Para tanto, o conceito de paisagem tem sido utilizado como meio para relacionar as pesquisas, sendo considerado fundamental para a compreensão das dinâmicas, organização espaço-tempo e tecnológica, e trajetórias históricas (vivências) de grupos que ocuparam a região por milênios. Neste caso, a paisagem é parte da vida humana, em que ela só existe por meio de nosso julgamento, apreciação, compreensão, etc., ou seja, é uma construção humana, não existindo apenas na materialidade, se constituindo em camadas de práticas socioculturais, narrativas e existências (ancestrais e atuais). As ocupações se estabelecem, se apropriam e reinterpretam as anteriores e, portanto, contemporâneas. Entendemos que paisagem e humanos são vetores de inter-relações, negociações e reciprocidades. Não existe paisagem sem humanos, não existe humanidade sem paisagem.