O século XIX foi marcado pelo empreendimento de viagens de europeus ao continente americano, sobretudo por ingleses, buscando novos espaços para comercialização, extração de recursos naturais e condições de trabalho. Muitos viajantes escreveram relatos de suas impressões sobre os povos e lugares visitados. É neste contexto que encontramos Maria Graham, viajante inglesa que se tornou o tema desta pesquisa. Ela foi filha e esposa de membros da Marinha Britânica e, desse modo, desde pequena, teve contato com os mares. Ao longo de sua vida, publicou variados gêneros literários, viajou para a Índia, a Itália, o Brasil e o Chile e realizou trabalhos na área da história natural. A presente dissertação tem como objetivo analisar as redes e os espaços de sociabilidade da viajante em suas estadias no Império do Brasil e, a partir do conceito de gênero, compreender a narrativa “feminina” e política da autora. Interessa-nos observar o papel das redes de sociabilidade na esfera privada e política, bem como o imaginário inglês em seu olhar para as mulheres e a Independência e escravidão. Para a realização da pesquisa, utilizamos a biografia publicada por Rosamund Brunel Gotch, Maria, Lady Callcott: the creator of Little Arthur; o livro Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823; o manuscrito Escorço biográfico de d. Pedro I, com uma notícia do Brasil e do Rio de Janeiro em seu tempo; e algumas cartas trocadas com a imperatriz Leopoldina, traduzidas e publicadas pelos Anais da Biblioteca Nacional. Ao propor investigar sua inserção no ambiente privado e no debate político, nosso trabalho buscou contribuir para o campo de estudos de história das mulheres e de gênero, iluminando as possibilidades e os limites de atuação de uma viajante inglesa no período marcado pelo patriarcalismo.