Em sua obra mais conhecida (Ultime lettere di Jacopo Ortis), o autor italiano do século XVIII, Ugo Foscolo, reúne e explora os motivos e técnicas tradicionalmente associados ao gênero epistolar. Esta reflexão se materializa em três níveis discursivos: amoroso (busca da plenitude pessoal através de um objeto de desejo), político (luta pela unidade e identidade nacionais) e literário (criação de uma nova forma de expressão e de uma nova audiência). Em cada um desses três níveis as contradições do protagonista, Jacopo Ortis, o situam em um beco sem saída de que só pode escapar mediante sua autodestruição. A intenção do presente ensaio é estudar cada um desses três níveis em relação à estrutura epistolar do romance de Foscolo. Ainda que tais níveis discursivos (amoroso, político e literário) tendam a ser considerados em separado, em meu ensaio estabeleço uma correlação íntima dos três à luz das teorias de Roland Barthes (Fragmentos de umdiscurso amoroso), Mikhail Bakhtin (Problemas da poética de Dostoiévski) e Jacques Derrida (Gramatologia e A escritura e a diferença).Minha análise contempla a fragmentação do material narrativo e a dispersão de suas vozes e destinatários como reflexo da cisão espiritual do homem romântico e da desintegração política da Itália nos primordios do século XIX. Por outro lado, considero que a tensão resultante do enfrentamento entre postulados estéticos (neo-classicismo e romantismo) e conceitos excludentes (artificiosidade e espontaneidade, escrita e oralidade) tende, em última instância, a problematizar o ato de escrever e, portanto, a base do gênero epistolar.