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PrefácioVerbetes para Devir-animal Notas Biográficas Em Torno d'A Performance 9 Em Torno d'O Animal No tempo em que os animais falavam... havia veados que contavam histórias à noite, lobos que sussurravam entre si, raposas que inventavam charadas, hienas que resolviam palavras cruzadas, moscas que zuniam fórmulas matemáticas, vacas que sabiam línguas estrangeiras e lagartos que escreviam no ar planos de voo. O que é feito desse tempo? Hoje, as vozes reunidas neste livro digital são de seres humanos, como sempre têm sido seres humanos os contadores das histórias que começam assim: "era uma vez, no tempo em que os animais falavam..." Era uma vez um dia de Verão de 2018, em que um grupo de pessoas se juntou para escutar e conversar entre si, procurando fazê-lo num modelo diferente dos tradicionais e por vezes enfastiantes painéis académicos com intervenções de vinte minutos e powerpoints pré-desenhados. Com efeito, sob a epígrafe "práticas performativas em torno d'o animal", procurou-se, através de um formato diferente, estimular a circulação de ideias e intensificar a escuta, sem tempos de antena nem ppts. Para além da circulação das falas, essa jornada foi também ocasião para produzir grandes pedaços de papel com anotações diversas. E para acontecerem mais conversas em torno das folhas rabiscadas e desenhadas, pousadas sobre o linóleo de um estúdio de dança, PREFÁCIO Daniel Tércio Índice Prefácio Verbetes para Devir-animal Notas Biográficas Em Torno d'A Performance 10 Em Torno d'O Animal num edifício pré-fabricado da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa. Ilustram a presente edição digital fotografias de pedaços dessas folhas e de segmentos dos corpos que as produziram ou que simplesmente por elas deambularam. Este livro principiou aí, mas não parou nesse lugar. Os encontros foram acontecendo e as conversas recuperadas e ampliadas. As perguntas começaram a marcar ritmos, como metrónomos. De um lado, um tambor; do outro, o aulo dionisíaco. De um lado, o animal, com o seu rugido; do outro, a performance, com a sua acutilância. A estrutura deste livro reflete a oscilação entre estes dois termos e propõe também, ao leitor, um movimento, uma transformação, um devir: em torno d'o animal e em torno d'a performance. No texto inaugural -"O devir-animal" -José Gil, após reconhecer que desde sempre os animais têm assombrado a vida dos homens, questiona o devir-animal (na esteira de Deleuze), não enquanto identificação com um animal, mas sim enquanto incessante poder de transformação. O leitor terá ainda a oportunidade de acompanhar o debate subsequente à apresentação do ensaio anterior. Cecília de Lima, com "Devir-criatura", e Luca Aprea e André Pita, com "Aturdimento", prosseguem nesta linha, propondo leituras que aproximam a filosofia do terreno das artes performativas. Ana Godinho, com Scenopoïetes dentirostris, faz-nos regressar uma vez mais ao tal dia de Verão, convidando-nos para a mesa em que se conversou sobre um certo pássaro australiano, que realiza regularmente exercícios estéticos com a...