Trabalho médico e alienação: as transformações das práticas médicas e suas implicações para os processos de humanização/desumanização do trabalho em saúde

Abstract

À Mel, companheira de sonhos e lutas, pela cumplicidade amorosa e enriquecedora nas reflexões e nas vivências, contribuindo para meu (nosso) devir como homem mais inteiro. O tema da humanização dos serviços e práticas de saúde vem sendo objeto atualmente de várias elaborações e pesquisas no campo da saúde coletiva em razão de sua importância para constituição de práticas e serviços centrados no cuidado e na integralidade da atenção. Esse estudo teve como objetivo a análise das transformações contemporâneas do trabalho médico e suas implicações para os processos de humanização/desumanização do trabalho em saúde. Optou-se pela metodologia de vertente qualitativa, sendo que a coleta de dados baseou-se na triangulação das técnicas de entrevista em profundidade -sob a forma de seis histórias de vida profissional de médicos -e de análise documental. A fim de analisar como as transformações em andamento nas práticas médicas e de saúde afetam a relação entre profissional de saúde e usuário de forma a caracterizá-la como desumanizante, nos valemos do substrato filosófico da dialética humanização-alienação. O estudo das transformações pelas quais passam o trabalho médico e em saúde demonstrou a conformação de dinâmicas potencializadoras de relações simultaneamente humanizadoras e alienantes entre seus sujeitos constituintes e destes com os demais elementos componentes dos processos assistenciais em saúde. Por um lado, o movimento permanente de desenvolvimento de teorias, métodos e práticas cada vez mais eficientes na abordagem das condições de sofrimento dos sujeitos, principalmente em sua dimensão orgânica, representa uma dimensão humanizadora inegável do trabalho em saúde, expressando aqui um elemento constituidor do gênero humano como cada vez mais rico e complexo. Por outro lado, a repercussão desse acúmulo genérico no plano dos sujeitos e coletivos concretos tende a produzir implicações contraditórias, expressas, por exemplo, na (re)produção de graus significativos de desumanização e sofrimento. Exemplo disso é como os movimentos contemporâneos de socialização do trabalho médico e em saúde sob referenciais centrados na heteronomia, na racionalidade de base empresarial, na divisão técnica reificada e no papel determinante exercido pelo capital no interior do setor saúde contribuem para a conformação de processos de trabalho progressivamente subordinadores do agir autodeterminado, reflexivo e criativo dos agentes a dinâmicas fetichizadas e instrumentalizadoras, tanto para eles quanto para usuários dos serviços. Também em função dessa ampla gama de transformações, evidencia-se um aprofundamento do estranhamento dos médicos em relação às determinações sociais de sua prática, dos demais sujeitos e de seus sofrimentos. Analisou-se como esses agentes podem estabelecer relações reificantes com seus instrumentos de trabalho, seja na forma de equipamentos, seja na forma de tecnologias não-materiais, como as várias formas de rotinas e protocolos, contribuindo para um descentramento dos sujeitos no interior das práticas de saú...

El poder médico y la crisis de los vínculos de confianza en la medicina contemporánea

“…Podemos incluso afirmar que, a raíz del propio desarrollo del polo científico-tecnológico, se amplía mucho el abanico de acciones y, en consecuencia, el abanico de conflictos. Estas son las diversas situaciones que hoy requieren atención y cuidado en los servicios de salud y que sirven de referencia para la crisis de carácter humanístico, tan debatida (20), (21) . Según Arendt (1) , la crisis se experimenta como una ruptura de la "tradición" cuando, frente a un conflicto, el pasado ya no proporciona criterios que validen y autoricen las respuestas; es decir, no podemos valernos de las mismas referencias que han estructurado el mundo hasta ahora.…”

“…Médicos brasileños, entrevistados a fines de la década de 1990 (2) y en los primeros años de la década siguiente (21) , expresaron un gran malestar por los nuevos contextos del ejercicio profesional. Manifestaron, con cierta indignación, cómo se convirtieron en anónimos para los pacientes, pero sin percibir que hicieron lo mismo con sus pacientes.…”

“…Manifestaron, con cierta indignación, cómo se convirtieron en anónimos para los pacientes, pero sin percibir que hicieron lo mismo con sus pacientes. otro aspecto que ilustra estas transformaciones de la práctica médica se puede observar en el modo de utilizar los exámenes complementarios a la historia clínica, a los que denominan solo como exámenes diagnósticos, por lo que desaparece la noción de que complementan el raciocinio clínico (21) .…”

“…Así, el médico, ante la pérdida de la legitimidad para hacer uso del antiguo puesto de poder que antes ocupaba, convierte la relación solo en un ejercicio de mando y control del paciente, situación en la que, como dice Arendt (26) , no hay ningún poder, solo violencia. como indica Gomes (21) , al discutir la enajenación de los médicos con respecto a la naturaleza social de su trabajo y su práctica técnica, observamos que al interior de la profesión hay cierto descontento y extrañeza por el hecho de que todo lo que haga ya no será percibido como orientado hacia lo humano, en esa práctica que a ellos les parece altamente "humanizada". en este sentido, debemos considerar, y preferimos creer, que también los profesionales quieren superar la crisis de confianza.…”

Violência institucional e humanização em saúde: apontamentos para o debate

“…The same can be said about the use of humanization within the field of Collective Health. Corroborated by the vision of several authors [19][20][21][22][23][24][25][26] who criticize an overly generic use of the term. All through the bibliographic survey 1 the term 'humanization' appears mainly in the form of proposals to confront, contain and discourage violence within the health services.…”