Este estudo analisa o envolvimento em movimentos de luta armada política em Portugal, através da perspectiva dos seus participantes. Assim, explorou-se a iniciação/entrada no grupo; as dinâmicas interpessoais dentro do grupo; a vida dentro do grupo versus vida quotidiana; a gestão da clandestinidade; o papel das mulheres no movimento; as justificações de ordem ética, moral, psicológica, ideológica para as acções empreendidas; a gestão de momentos e acções percebidos como desconfortáveis; a gestão da dúvida e questionamento; o suporte popular; e o sentido das acções e do envolvimento, no passado e no presente. Recorreu-se a uma metodologia de natureza qualitativa, realizaram-se entrevistas semiestruturadas a participantes em movimentos de luta armada política em Portugal no passado, permitindo, deste modo, uma apresentação e discussão dos resultados que espelham o posicionamento e a opinião daqueles aos tópicos supracitados, comparados, quando possível, com os dados recolhidos na literatura.
Palavras-chave:Clandestinidade, Luta armada, Terrorismo.
INTRODUÇÃOA definição do termo terrorismo não é unânime e acarreta inúmeras discussões e controvérsias, sendo que algumas das principais questões geradoras de falta de consenso nesta matéria prendem--se, essencialmente, com que contextos considerar de actuação terrorista, a partir de que princípios morais avaliar uma acção como terrorista, como separar o terrorismo da actuação estratégica e manipuladora de alguns Estados e como apelidar de terroristas organizações que não se identificam como tal (Ventura & Nascimento, 2001).Assim, de acordo com Weinberg e Eubank (2006), na origem do terrorismo estão motivações políticas e não particulares, expressas através de um formato violento de comunicação que, tendo como aliados principais os mass media, procura influenciar as emoções e promover a alteração comportamental de um público específico. Tais motivações estão, muitas vezes, confinadas a um lugar específico e têm por base conflitos étnicos, culturais ou religiosos (Henderson, 2004).A organização de um grupo terrorista, de acordo com Fraser e Fulton (1984( , citados por Henderson, 2004, apresenta a seguinte forma piramidal: no topo encontra-se o Líder -reconhecido internacionalmente -, seguido pelo Comando -grupo reduzido de líderes responsáveis por toda a planificação e manutenção da disciplina -, secundado pelo Quadro Activo -grupo mais
193Este texto foi elaborado no âmbito do Projecto "Violência nas Relações Juvenis de Intimidade" financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (PTDC/PSI/65852/2006), coordenado por Carla Machado.A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: Raquel