Todo fálico e não-todo: construções lacanianas sobre a sexuação

Abstract

Consultório particular, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil RESUMO O interesse deste ensaio é apresentar o avanço teórico produzido por Lacan a partir da introdução da lógica em torno do problema da sexuação, no qual ele delimitou de forma precisa o posicionamento masculino e feminino por meio de suas modalidades de gozo. É, então, com suas famosas fórmulas da sexuação que o ensino lacaniano articula a diferença anatômica sob a oposição de duas lógicas (a do todo-fálico nos homens e do não-todo nas mulheres) e também duas espécies distintas de gozo (o fálico e o suplementar). Tais construções revelam uma virada decisiva na abordagem da feminilidade, no qual está em evidência a formalização do além do Édipo -uma maneira de aceitar a proposição edípica, mas também de apontar que em seu horizonte só podemos reconhecer a lógica do todo-fálico, que produz a posição masculina, mas não a feminina. Palavras-chaves: sexuação, todo-fálico, não-todo, gozo fálico, gozo suplementar. ABSTRACTThe interest of this paper is to present the theoretical advances made by Lacan from the introduction of a logic around the problem of sexualization, in which he delineated the precise way the masculine and feminine positioning by their mode of enjoyment. It is, then, with his famous sexualization formulas that Lacan teaching articulates the anatomical difference under the two opposing logics (the all-phallic in men and not-all in the women) and too two distinct species of enjoyment (the phallic and supplemental). Such constructions show a decisive turning in the approach of femininity, which is in evidence the formalization of the Oedipus beyonda way to accept the Oedipus proposition, but also to point out that on the horizon we can only recognize the logic of all-phallic, that produces the male position but not in feminine.

Rituais Brutais Nas Mortes De Travestis E Transexuais: O Que a Abjeção Da População T Denuncia?

“…Segundo Lacan (1972Lacan ( -73/1985, conforme citado por Bonfim (2014), qualquer ser falante se inscreve de um lado ou do outro do quadro, visto que os matemas revelariam que "Tais são as únicas definições possíveis da parte dita homem ou bem mulher para o que quer que se encontre na posição de habitar a linguagem" (LACAN, 1972(LACAN, -73/1985. A coluna esquerda da imagem abaixo descreve a posição masculina e o lado oposto, a feminina.…”

“…A coluna esquerda da imagem abaixo descreve a posição masculina e o lado oposto, a feminina. Esta divisão não corresponde à distinção anatômica entre os sexos, mas, sim, uma posição sexuada determinada no próprio discurso do sujeito, muitas vezes em dissonância com sua anatomia (BONFIM, 2014).…”

“…No lado feminino, Catão (2013) explica que as duas fórmulas seriam: não existe ao menos uma mulher para quem a função fálica não incide e para não-toda mulher é verdadeiro que a função fálica incide. Bonfim (2014) ressalta que o quantificador existencial é negado (não existe x), bem como é negada a função (a função fálica não incide). O lado direito do quadro mostra a não existência de pelo menos um que tenha escapado à castração, ou seja, não existe ao menos uma mulher que seja uma exceção à regra (CATÃO, 2013).…”

A arte de Sanja Ivekovic como denúncia

“…Vimos que, no lado masculino das fórmulas, a existência de um x para quem a instância fálica não opera (Lebrun, 2004), estebelece a norma, validando a castração para todo x. Do lado feminino, temos que como não há x para quem a função fálica não funcione (Laurent, 2009), impede-se a fundação de uma regra, o que determina um funcionamento não todo referido à castração (Bonfim, 2014) e, por conseguinte, à ordem do significante (Brodsky, 2009).…”

“…Aqui, observamos a ausência de uma ressalva que estabeleceria o grupo das mulheres, como constata-se no quadro inverso (Pommier, 1997). Posto isso, deparamo-nos com: , fórmula apostadora de que o sujeito que se situa nessa parte da sexuação é não todo referido à castração (Bonfim, 2014), ou seja, não se identifica completamente à ordem do significante (Brodsky, 2009), especificidade de uma categoria que justamente ao integrar o todo, termina por ultrapassá-lo.…”