A fosseta de disco óptico é uma anomalia congênita rara descrita pela primeira vez em 1882 por Wiethe (1) . Tal anomalia foi atribuída a um fechamento imperfeito da fissura embrionária (2) . Embora congênita em sua grande maioria, a mesma também pode ser adquirida (3)(4)(5) . Dentre as complicações associadas à fosseta do disco óptico encontra-se o descolamento seroso macular (6) , cuja patogênese ainda é desconhecida, apesar de que alterações vítreas são postuladas como as grandes responsáveis pelo mesmo (7) . Alterações de campo visual também foram correlacionadas às fossetas do disco óptico, inclusive escotomas arqueados e paracentrais (3)(4) . Observa-se ainda uma maior prevalência da fosseta do disco óptico em portadores de neuropatia óptica glaucomatosa (3) . O presente caso trata de uma fosseta dupla unilateral do disco óptico, ocorrência esta muito rara na literatura mundial.
APRESENTAÇÃO DO CASOTrata-se de um paciente do sexo masculino, 72 anos de idade, natural e residente em Belo Horizonte, com uma histó-ria de baixa acuidade visual no olho esquerdo de longa data. Negava comorbidades, e relatava ter uma irmã com glaucoma. Encontrava-se em acompanhamento na unidade de catarata e glaucoma da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte há cerca de 1 ano, onde fora prescrito maleato de timolol 0,5% em ambos os olhos, colírio este que o paciente vinha instilando até a presente avaliação. Sua melhor acuidade visual era 20/30 no olho direito (OD) com +2,00~ -0,75x65°, e 20/50 no olho esquerdo (OE) com +0,25~ -0,75x75°. À biomicroscopia, observava-se leve opacificação cristaliniana e câmara anterior profunda em ambos os olhos . A pressão intraocular (PIO) era 11 mmHg no OD e 12 mmHg no OE às 14 horas com maleato de timolol 0,5% nos dois olhos, e a espessura corneana central média ultrassônica 523 μ e 526 μ, respectivamente, no OD e OE. À oftalmoscopia, os discos ópticos eram bem corados e a camada de fibras nervosas da retina exibia estriação normal. As escavações papilares eram ao redor de 0,5 V x 0,5 H no OD, com discreto estreitamento da rima neural superior, e 0,6 V x 0,5 H no OE com uma fosseta nasal e outra temporal, esta maior e mais profunda que a primeira (Figura 1-A). No polo posterior do OE havia ainda uma atrofia do epitélio pigmentar, inclusive na região macular, achados estes confirmados na angiofluoresceinografia. Na campimetria computadorizada, realizada com o Octopus 1-2-3 (estratégia TOP/Normal, 30-2), observou-se no olho esquerdo alguns escotomas relativos paracentrais temporais e outros absolutos mais periféricos, inclusive conectados à mancha cega (Figura 1-B). No olho direito, este exame encontrava-se dentro da normalidade.O colírio hipotensor (maleato de timolol 0,5%) foi então suspenso em ambos os olhos, e o paciente submetido a uma tomografia de coerência óptica (Stratus OCT 3), que demonstrou um leve aumento da espessura da camada de fibras nervosas no setor de 3 h no olho esquerdo, e diâmetro horizontal aumentado do disco óptico deste mesmo olho (2,01 mm) em relação ao OD (1,5 mm) ...