A dádiva é uma forma de troca que fascina. As ciências sociais não escaparam a isso, tendo como ponto de convergência o célebre Ensaio sobre a dádiva, de Marcel Mauss, publicado pela primeira vez em 1925 na revista L'Année Sociologique. Para além de um círculo bastante estreito, que incluía René Maunier 1 e Bronislaw Malinowski 2 , a obra não teve um impacto imediato tão grande como se poderia pensar a posteriori, e foi preciso aguardar o comentário de Claude Lévi-Strauss ([1950] 1993) para que o Ensaio alcançasse sua consagração.Depois, grande parte do debate sociológico sobre a dádiva organizou-se em torno da obra de Alain Caillé e do grupo formado por ele no círculo da Revue du Mauss, a partir de 1981. Sua interpretação da noção de dádiva baseia-se em quatro afirmações: a primeira, que a dádiva é o fenômeno empírico que permite estudar a fabricação elementar da solidariedade social, tanto na sociedade moderna como em todas as outras; a segunda, que a dádiva moderna se realiza principalmente no 1. Membro periférico do grupo dos durkheimianos, René Maunier esteve em contato direto com Mauss e discutiu com ele após receber uma versão prévia do Ensaio sobre a dádiva, no qual se inspirou diretamente para seu brilhante trabalho sobre as trocas simbólicas na Cabília -a twassa -publicado em L' Année Sociologique (Maunier, 1927). A esse respeito, ver Alain Mahé (1996) e, colocando em perspectiva suas ideias no diálogo com Mauss e Bourdieu, ver Steiner (2016, cap. 3) 2. O estudo que Bronislaw Malinowski ([1922] 1993) realizou sobre as trocas nas ilhas Trobriand deu a Mauss uma parte substancial de suas informações sobre esse assunto. Os dois pesquisadores mantinham uma relação próxima no momento em que Mauss finalizou seu texto. Malinowski mudou seu ponto de vista sobre a dádiva pura após a leitura do Ensaio.