A corporação médica tem sua autoridade para a autorregulação profissional subscrita pelo Estado e vem contribuindo ao longo da história por meio de seus enunciados cientificamente fundamentados que conferem racionalidade às intervenções do Estado no campo da saúde. No Brasil, durante a pandemia de COVID-19, houve uma sólida associação de extrema direita entre a governança estatal e a governança médica que deu suporte a uma política de enfrentamento da pandemia baseada em negacionismo científico, uso off-label de medicamentos ineficazes e desqualificação de medidas preventivas, tendo esta sido responsável por grande parte das mais de 700 mil mortes ocorridas no país. O presente artigo examina o fenômeno da interação dessas duas formas de governança no contexto de um neoliberalismo autoritário protofascista e busca refletir sobre os necessários limites à autonomia médica em todos os seus níveis.