IntroduçãoDurante as últimas décadas, sobretudo com a desintegração do campo soviético e a projeção do pensamento neoliberal, tornou-se lugar comum falar no fim dos Estados e/ou na erosão da soberania, ao passo que se tornou corrente justificar todas as dinâmicas sociais como consequência do que se convencionou chamar de "globalização". O presente artigo pretende problematizar o suposto antagonismo entre, de um lado, capacidade estatal e soberania e, de outro, a "globalização", aqui entendida como integração dos mercados em âmbito mundial e a consequente intensificação dos fluxos de mercadorias, capital, informação e pessoas. Há, aliás, um maniqueísmo corrente que costuma reduzir as abordagens em "globalistas" e "céticos", como é o caso de Held e McGrew (2001), que pouco contribui para entender o sistema internacional contemporâneo. Estudos sobre a "globalização", embora reconheçam a coexistência de tensões entre escalas subnacional e supranacional, acabam por destacar a redução da autonomia nacional diante da assim chamada "globalização" (Mittelman 1996, 7-8). Apanhados de teorias sobre o mundo contemporâneo e a "globalização" dão conta ou de subestimar ou de negligenciar a questão estatal (Kumar 1997;Ianni 1996). E no âmbito das Relações Inter-