Terapia Ocupacional Social, pessoas trans e Teoria Queer: (re)pensando concepções normativas baseadas no gênero e na sexualidade

Abstract

Resumo: A partir de minhas aproximações teóricas e práticas com a temática das vivências trans, busquei, neste artigo, discutir essas vivências e os desdobramentos decorrentes das concepções normativas de gênero e sexualidade sob as quais a vida social está organizada. Para balizar a discussão em torno dessas experiências, acionei como aporte teórico alguns conceitos da Teoria Queer, vertente pós-estruturalista que questiona a essencialização dos sujeitos, as concepções de normatividade e o enrijecimento de experiências identitárias. Em seguida, busquei fazer uma interlocução com os debates sobre a atuação e campo teórico-metodológico da Terapia Ocupacional Social, refletindo sobre a dimensão prática e teórica das ações, visando o acesso à cidadania, sem perder de vista a urgência da compreensão dos fenômenos sociais, histórica e culturalmente. É preciso pensar nessas práticas sem perder de vista a posição de agente articulador dos sujeitos com a realidade social, a partir da mediação e ampliação de novas formas de fazer, da desnaturalização de vivências marginalizadas e, principalmente, da emancipação social, sempre articulando as dimensões macro com as micro, e o individual com o coletivo.

Crise da democracia brasileira e o cotidiano de pessoas dissidentes de gêneros e sexualidades: reflexões baseadas na terapia ocupacional social

“…The critical opinion of the Queer Theory in theoretical and in practical terms is about the strategies of the discipline for the normalization and stabilization of social identities and gender identities. This opinion has a direct impact on the criticism of compulsory heterosexuality -the heteronormativity -and seeks to think about the mechanisms by which these elements operate and gain resonance in the everyday life (Melo, 2016).…”

“…Genders and sexualities have been emerging themes in Brazilian Occupational Therapy at the undergraduate, research and university extension levels (Monzeli & Lopes, 2012;Monzeli, 2013;Leite Junior, 2015;Monzeli et al, 2015;Melo, 2016;Monzeli, 2016;Leite Junior & Lopes, 2017;Melo et al, 2018), becoming important issues in the area, especially for the neglect and violation of human, civil, political and social rights that permeate the experience of this population. Based on these experiences, we propose a reflection based on the debate about the everyday lives of people and 1 The Brazilian Democracy Crisis is understood as a conjunctural phenomenon rooted in political, economic, historical and social forces that have legitimized and produced anti-democratic values.…”

As Cenas Musicais Como Moldura Analítica Do Lazer Noturno: Homossexualidades Masculinas Em Perspectiva

“…Monzeli e Lopes (2013), em estudo de revisão de periódicos de terapia ocupacional, apontam a ausência de pesquisas na área que compreendam a sexualidade como expressão subjetiva, política e coletiva, indo além da intervenção clínica. Melo (2016), neste mesmo sentido, problematiza como a estruturação da vida cotidiana nas bases heretonormativas pode implicar em panoramas muito restritos e excludentes, como no caso da "vivência trans", na maternidade, na adoção, na empregabilidade.…”

“…As bases epistemológicas da terapia ocupacional social têm fornecido respaldo diferenciado para quem atua na área da sexualidade/gênero, incluindo, em seu domínio de análise, a cidadania, o território e a rede social de suporte (MELO, 2016). Ademais, os estudos sobre cotidiano mostram-se promissores no sentido de romper com o pensamento funcionalista e positivista, que alimentam a ideia de ambiente como exterioridade, de um sujeito racional e passível de "adaptação" à sociedade.…”

“…Quanto à relevância, é preciso pontuar a escassez de produções científicas em terapia ocupacional que relacionem as dimensões do cotidiano às expressões de gênero e sexualidade, em especial a dimensão do lazer. Ainda assim, pesquisas recentes sinalizam avanços na área, no sentido de apresentarem matrizes analíticas cada vez mais diversificadas e robustas, decorrentes de aproximações oportunas com as teorias pós-estruturalistas e socioculturais, na compreensão das formações subjetivas, do cotidiano vulnerável, da "cidadania LGBT", ressaltando que os/as autores/as se mostram atentos/as às agendas dos movimentos sociais, deflagrando situações precárias pertinentes à atuação da terapia ocupacional (MONZELI;LOPES, 2013;MELO, 2016;MURASAKI;GALHEIGO, 2016;LEITE JÚNIOR;LOPES, 2017).…”