e ste artigo está alicerçado em estudos dos autores que analisaram o processo de aproximação, ora em curso, estabelecido entre as perspectivas feminista e agroecológica no Brasil. São analisados os elementos acerca do lugar de subordinação ocupado pelas mulheres na agricultura familiar brasileira. Um elemento chave deste artigo reside na ideia de que, no âmbito da família rural camponesa, persistem processos que perpetuam relações de gênero injustas, que reforçam o poder patriarcal. Tratar a família como unidade monolítica torna o desenvolvimento agroecológico incompleto e imperfeito, daí a importância da aproximação entre a agroecologia e o feminismo. São também analisadas as dificuldades enfrentadas, os desafios superados e a superar, além do potencial sinérgico dessa aproximação. Desta forma, procura-se contribuir para a evolução futura tanto da agroecologia como do feminismo, a partir dos passos dados e lições aprendidas com a trajetória.No Brasil, o debate agroecológico iniciou-se na década de 1980 influenciado por discussões pautadas por movimentos de oposição ao processo de modernização da agricultura que se intensificou na segunda metade do século XX. Essa modernização tem sido responsável pelo aumento das contaminações causadas pelos agrotóxicos, descontrole das pragas e doenças, degradação dos solos e dos recursos hídricos, entre outros danos. Pouco a pouco, o debate ampliou-se para consequências sociais do modelo de desenvolvimento vigente, como a concentração de terra que leva à pobreza e exclusão no campo, à precarização das relações do trabalho e, por fim, ao êxodo rural. Enquanto movimento, a agroecologia ganhou força nos anos 2000 com a realização do I Encontro Nacional de Agroecologia (I ENA) e a construção da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).Em meio a consensos e dissensos, ao longo desse período, emergiu no país um novo processo político. As organizações que iniciaram seu trabalho no campo agroecológico, passaram a incorporar, mesmo que tangencialmente, uma abordagem de gênero. Por sua vez, as organizações feministas mesmo com origem urbana, ao se depararem com a realidade rural, passaram a incorporar a agroecologia em suas abordagens de trabalho.O termo agroecologia aqui descrito diz respeito, por um lado, a uma ciência e, por outro, a um movimento social, reunindo uma visão holística e um enfoque sistêmico. Não se trata apenas de uma forma de praticar agricultura, nem tão somente ao uso de tecnologias que não agridam ao meio ambiente. Sua proposta é, sobretudo, a partir da agricultura familiar romper com o modelo hegemônico de desenvolvimento rural baseado no monocultivo, no latifúndio, no agronegócio que formam a base do modelo capitalista de desenvolvimento rural gerador de exclusão social (1).Da mesma forma, o feminismo aqui abordado também está relacionado a uma teoria e a um movimento que se retroalimentam e, de várias formas, põe em relevo a opressão que o gênero masculino exerce sobre o gênero feminino (2). Essa abordagem questiona o papel de subordinação da mulher e os vári...