m u n d o á r a b e /a r t
OSudão sempre foi marcado por uma história de profunda exclusão, da qual o conflito violento se foi tornando apenas mais uma das suas trágicas expressões. De fato, ao longo da história sudanesa, vários grupos foram sendo, repetida e sistematicamente, excluídos da vida econômica, política, social e cultural do país. Esta foi também uma tendência perpetuada e acentuada pelo domínio colonial anglo-egípcio entre 1898 e 1956, período em que o país foi alvo de uma política de administração colonial distinta ao norte e ao sul. Ao norte foi implementada uma política de administração civil, com a substituição dos governadores militares por agentes civis britânicos, enquanto ao sul foi implementado um modelo de administração central nativa, com a separação dos vários grupos étnicos de modo a evitar conflitos e controlar a população. Essa política foi, mais tarde, (em 1930), substituída pela "política sulista" que visava desenvolver as estruturas políticas e sociais de acordo com padrões de identidade "africana" em vez de "árabe" (à semelhança do norte). Aplicaram-se, assim, práticas administrativas e coloniais significativamente diferentes nas duas regiões do Sudão que, na nossa opinião, serviram de base para uma certa ideia de autogoverno no sul do país, mas que na prática fomentaram um sentimento de negligência do poder colonial britânico relativamente à região e, consequentemente, tensões várias entre o poder colonial e a população. Após a independência em 1956, o Sudão mergulha quase que automaticamente numa situação de instabilidade política e conflito interno entre norte e sul que viria a se prolongar por mais de quatro décadas (1).Com a passagem do poder político para as mãos de partidos centralizadores do norte e com as crescentes reivindicações independentistas por parte de grupos representantes do sul, continuadamente negadas por Cartum, as reivindicações sulistas foram, então, cristalizando-se em torno do Sudan's People Liberation Movement/ Army (SPLM/A). Este tornou-se, assim, o único grupo rebelde capaz de pressionar e enfrentar, política e militarmente, um governo ára-be-muçulmano defensor de um projeto nacionalista particularmente agressivo (2). As diferenças religiosas entre a população do norte, majoritariamente muçulmana, e do sul, majoritariamente cristã e animista, rapidamente se tornaram um instrumento facilmente aproveitado e usado por ambas as partes, em especial após a imposição, em 1983, da lei islâmica a todo o território sudanês por parte do governo liderado por Gaafar Nimeiri. Tal medida, vista por Cartum como essencial para alimentar e justificar perante a população do norte a ideia de um país homogêneo e perfeitamente controlado pelo governo central, foi igualmente aproveitada pelos rebeldes do sul para justificar a sua política de resistência violenta e militar contra o poder autoritário de Cartum, marcando indiscutivelmente a forma como