Interpretações sobre a consistência dos partidos políticos brasileiros parecem obedecer a um padrão cíclico, enfatizando evidências ora de fragilidade, ora de consolidação das organizações partidárias nacionais. As primeiras incursões analíticas sobre o tema, a partir dos anos 60, foram marcadas pelo diagnóstico do subdesenvolvimento partidá-rio, produto de resíduos de relações tradicionais na sociedade brasileira, traduzidos na forma de clientelismo e controle oligárquico do voto. Em versão mais sofisticada, Soares (1973) chamava a atenção para as conseqüências do isolamento de zonas rurais, em contraste com a afluência social e cultural das regiões urbanas, destacando o impacto dos processos de urbanização e sua influência sobre a dinâmica partidária, expressos no crescimento do PTB e da UDN urbana e ideológica, paralelo ao declínio do PSD.Uma virada na discussão foi provocada pela ênfase institucional, especialmente a partir do trabalho de Maria do Carmo Campello de Souza (1990Souza ( [1976). A centralização da máquina administrativa, prévia à expansão da competição eleitoral, teria inibido a aptidão governativa dos partidos, convertidos em prolongamentos da burocracia estatal. Mais recentemente, Mainwaring (1991 e 1999; Mainwaring e Liñan, 1998) reforçou o diagnóstico das mazelas do sistema partidário brasileiro isolando as conseqüências das regras eleitorais, e especialmente do procedimento de lista aberta, sobre a formação de lealdades intrapartidárias.Nova virada no rumo da investigação sobre os partidos brasileiros foi provocada pelo aparecimento de um conjunto de trabalhos com inclinação para uma "avaliação positiva" da organização partidária nacional. A tendência à consolidação do sistema partidário, no início dos anos 60, revelada por Lavareda (1991), a disciplina partidária nas votações legislativas mostrada pela pesquisa de Figueiredo e Limongi (1995 e 1999), a relevância da atividade governamental exercida pelos partidos durante o período 1985-1997(Meneguello, 1998), a dimensão (Nicolau, 1996 e os custos da migração partidária (Schmitt, 1999) convergiram para uma mudança no tratamento conferido aos partidos brasileiros, vistos agora pelo prisma de sua afirmação.O forte contraste entre abordagens concorrentes, que adotam a fragilidade ou, alternativamente, a consistência do sistema partidário, poderia sugerir tratar-se de recortes temporais ou geográficos distintos, privilegiados em cada empreita-