Sobre Práticas de Medicalização e “Loucura”: Algumas Reflexões (In)disciplinadas

Abstract

Este artigo traz diálogos e questionamentos produzidos a partir de diferentes encontros e em diferentes momentos da atuação acadêmica dos autores. Para fins de análise, tomamos a experiência da loucura e dos processos de medicalização como um dispositivo de normalização da vida e nos baseamos em duas imagens-cena, uma etnográfica e outra cinematográfica, em face de nossa atuação como docentes nos Cursos de Ciências Sociais e Psicologia da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Ao longo de nosso percurso experimental, autores como Foucault, Deleuze e Guattari, pensadores da Reforma Psiquiátrica brasileira, da Subjetividade e do campo da Saúde Coletiva, serão os nossos inspiradores.

Medicalização, saúde mental e biopolítica: uma revisão integrativa

“…Assim, é preciso que haja uma reconfiguração social de como o sujeito em sofrimento psíquico é percebido, já que, ao defender a ressocialização, é indispensável que a comunidade opere de modo a permitir que tal processo ocorra de forma genuína 23 . Defendese aqui o desmonte dos manicômios mentais que reproduzem a lógica manicomial no cotidiano a fim de liberar essa lógica enclausuradora e livrar as sociedades dos manicômios concretos 26 .…”

“…Nesse sentido, percebeu-se que a busca por uma dita normalidade é recorrente 11,24,26 . A fim de lidar com as complexidades cotidianas da vida, os usuários, em uso de psicotrópicos, são impulsionados pelo discurso médico a atingirem a suposta normalidade, além de demonstrarem "medo das emoções, das reações, do desequilíbrio, de 'enlouquecer'" 11 .…”

“…Ao se analisarem discursos de estudantes e profissionais da área da saúde acerca da representação social que se têm do sujeito em sofrimento psíquico intenso, constata-se como a representação do louco está atrelada à ideia de alguém "diferente", desviante, fora da normalidade; a isso se soma a percepção do sujeito "como uma ameaça e acometido por uma doença de fundamento orgânico, localizada no cérebro" 23 . Nesse sentido, percebe-se o desafio de lidar com os resquícios da lógica manicomial, alimentada pelos discursos circulantes que valorizam a dimensão simbólica, política e econômica que atravessa a loucura 26 .…”

Novos modos de subjetivação na formação do enfermeiro em Saúde Mental

“…Na abordagem biomédica, a loucura é assumida como um impeditivo, no sentido regulativo, para as possibilidades de vida. Na abordagem psicossocial, a loucura é acontecimento que insurge quando se é "autorizado" a agir compondo com o que se é 23,24 .…”

“…Mas nos cabe supor que, por aqui, ou melhor, pela sala de aula da Flor, novos modos de se ensinar sobre a loucura e sobre a formação em Enfermagem em Saúde Mental puderam ser suscitados. Modos esses que refletem uma postura ético-estético-política expressiva em um território de formação em Enfermagem em Saúde Mental não preocupado em reproduzir formas e modelos, mas em inventar novos modos de resistir ao que está instituído 23 .…”