Sobre a produção de bens e males nas cidades : estrutura urbana e cenários de risco à saúde em áreas contaminadas da região metropolitana de São Paulo

Formação do passivo industrial no solo de São Paulo

“…Devido à sua Primeria Revolução Industrial, a Inglaterra passou de um país com pequenas cidades e população rural dispersa, para um país de grandes cidades industriais que serviam o mundo inteiro, com dois terços de sua população trabalhando nas fábricas. A Revolução Industrial europeia também é caracterízada pela alta síntese química de materiais, além da exploração desenfreada de recursos naturais (VALENTIM, 2010). Engels (1975) cita a indústria algodoeira, que por muito tempo foi o ramo principal das fábricas na Inglaterra.…”

“…As tendências do pensamento político vigente da época na Europa eram caracterizadas pela recusa em aceitar as imposições do ambiente, e pela busca por ordenar a natureza por meio de uma ação calculada (BENEVOLO, 2012). Tais ideias defendiam que as ciências, como a química, teriam um poder transformador de libertar o homem das incertezas do acesso aos recursos naturais (VALENTIM, 2010). Com a emergência do capitalismo, as ciências químicas tiveram grande progresso, possibilitando a produção e consumo de novas e inusitadas mercadorias com base no processo de acumulação capitalista.…”

“…O pensamento político vigente se estendia também às formas tradicionais de controle público do ambiente construído, desvalorizando planos urbanísticos e leis regulatórias. As instalações onde se desenvolveriam os materiais nas primeiras cidades industriais de países europeus não seguiam diretrizes urbanísticas, eram livres de restrições e se localizavam onde desejassem (VALENTIM, 2010). O amplo desenvolvimento dos meios de transporte da época, destacam-se as estradas de ferro, decisivas na localização das indústrias (SÁNCHEZ, 2001).…”

“…Dessa forma, a cidade industrial torna-se o espaço da produção dual de bens e males: embora o progresso fabril anunciasse a prosperidade das cidades, nesta também eram produzidos passivos ambientais que representavam a negação da qualidade de vida (VALENTIM, 2010). Nota-se que a cidade industrial europeia que se desenvolveu até século XIX tinha como prioridade o progresso, em detrimento de dimensões que estão em pauta hoje, como a qualidade de vida e a saúde, seja ela física, psicológica, social ou ambiental.…”

“…Em São Paulo, a ocupação industrial adotou os mesmos padrões de instalações em galpões com habitações operárias em seu entorno, ao longo de eixos ferroviários e sobre as várzeas de rios (MORINAGA, 2013). Este padrão, portanto, é um reflexo do modelo de desenvolvimento fundamentado na produção mecanizada de bens das industrias europeias, mesmo que tardio e deslocado de sua origem, situando-se em uma economia periférica (VALENTIM, 2010).…”