freqüente com as conseqüências negativas das deficiên-cias de formação conceitual básica em teoria organizacional no Brasil. Como professor em cursos de mestrado e doutorado, não foram poucas as ocasiões em que me choquei ao ver alunos em situações quase absurdas, por pura falta de acesso a algumas referências básicas. Muitos desses alunos estudavam temas fundamentados em teorias das quais nunca haviam lido os principais expoentes, a não ser por meio de apuds; muitas vezes, porque tais clássicos nunca haviam sido publicados em português. Outros alunos, diante de seus problemas de pesquisa, propunham metodologias quantitativas e hipoté-tico-dedutivas, embora sua base teórica indicasse uma orientação indutiva e de caráter subjetivo. Outros ainda manifestavam "gostar de etnografia", e queriam usá-la para testar hipóteses de base objetivista e funcional! Uma boa parte queria juntar e citar em seu apoio (e não para sobrepor ou "metatriangular", como se discute nos textos a seguir) tudo o que havia lido na vida, de Karl Marx a Peter Drucker, passando eventualmente por Lair Ribeiro. Lembro-me de um aluno que experimentou severa crise ao descobrir que sua "idéia original" era, na verdade, o objeto básico da teoria neo-institucional, à épo-ca em voga há mais de 20 anos.A lista de eventos desse tipo é longa na vida de qualquer docente brasileiro envolvido com programas de mestrado e doutorado. Ainda mais embaraçoso é perceber que tais problemas atingem também colegas em estágios avançados da carreira, o que pode ser constatado pela qualidade discutível e pela limitada contribuição dos artigos submetidos a eventos e periódicos brasileiros. De fato, a baixa qualidade e a limitada contribuição científi-ca na produção brasileira em Administração tem sido traCom os dois artigos a seguir, a RAE inaugura a série "RAEClássicos: Textos Essenciais em Estudos Organizacionais". O objetivo da revista é proporcionar à comunidade acadêmica brasileira matéria-prima para reflexão e orientação em seu trabalho de pesquisa. O meu papel é apresentar e contextualizar a série, além de situar os dois artigos que compõem esta primeira parte da série no quadro da teoria das organizações no Brasil.
PRODUÇÃO INTERNACIONAL E CONTEXTO LOCALNos últimos anos, a RAE trouxe aos seus leitores textos publicados em revistas acadêmicas internacionais de primeira linha. Como crítico constante da importação exagerada e acrítica de modelos estrangeiros também no campo da teoria administrativa, minha percepção sobre a inclusão desses textos em periódicos nacionais foi sempre ambivalente. Por um lado, creio ser o papel das publicações nacionais a veiculação de investigação científi-ca que, antes de mais nada, derive da realidade local e a informe. Por outro lado, devemos considerar que nossos periódicos também têm outra missão, com a qual compartilho em intento e esforço, de inserir a produção científica nacional no cenário internacional. No que se refere à decisão de publicar textos estrangeiros já veiculados em outros países, esses dois objetivos são até certo p...