Significados da Casa e do Morar

Abstract

As casas são feitas através de escolhas e decisões autoconscientes, propriedades estas que, em última instância, distinguem pessoas de animais. Tal construção tem início com a escolha de um território, o qual é também usado como locus simbólico, onde ocorrem específicas relações sociais (VASCONCELOS, 2000). Na Antropologia, a categoria casa tem sido utilizada para delimitação dos espaços onde são constituídas práticas sociais entre diversos agrupamentos humanos. Como base analítica, tal categoria nos permite a identificação de elementos reveladores das concepções de mundo. Com essa premissa Levi-Strauss (1983), utilizando-se da Etnografia e da História, analisou distintas organizações sociais e identificou a Artigo Original 208 Verônica Gonçalves Azeredo VÉRTICES, Campos dos Goytacazes/RJ, v.18, n.2, p. 207-219, maio/ago. 2016casa como instituição comum entre elas. Com foco nas relações de parentesco (por consanguinidade ou aliança), escreveu a "Sociedade de Casas".Referenciados no trabalho de Lévi-Strauss (Ibid.), Carten e Hugh-Jones (1995) sugerem que os estudos sobre casas se voltem para as relações de parentesco, para a economia política e outras abordagens, mas que não descuidem dos significados a elas atribuídos, numa perspectiva de totalidade.Nessa linha de raciocínio, mas com olhar fenomenologicamente direcionado, Merleau-Ponty (1962) dá destaque a casa, como o principal centro de habitação humana. Ela tem voz e alma (BACHELARD, 1964;BUTTIMER, 1980). Por isso, longe de ser algo inerte, a casa é manifestação concreta das experiências vividas, ainda que distintas entre homens e mulheres (VASCONCELOS, 2000).Desse modo, é possível afirmar que as casas absorvem as histórias de vida de seus habitantes, no fluxo do seu desenvolvimento. Não raro, quando a família cresce, a casa também se estende, num movimento de incorporação das vivências de seus habitantes. São as experiências na casa que a qualificam como tal. Através delas nos sentimos ou não em casa.Ponto de referência para apreensão do entorno, a casa dialoga com o mundo ao redor. Trata-se de uma fração do espaço da cidade, do bairro, da rua, que possibilita a comunicação entre público e privado, cuja fronteira tênue é produto de apropriações e práticas reveladoras de códigos sociais e culturais, com os quais as pessoas atribuem significados à moradia e, por sua vez, ao que lhe é exterior.Na visão de Freitas (2001), são as oposições sociais tais como: público/privado, comunidade/identidade e as oposições espaciais: dentro/fora, casa/imediações, que permitem aos sujeitos a leitura de diferentes linguagens, num jogo dialético da casa como expressão territorial.Considerando que o espaço antecede ao uso, e o uso, por sua vez, produz novos espaços, nos interessa pensá-lo em sua configuração sociocultural, com ênfase na esfera doméstica -enquanto lugar privilegiado de relações. Nesses espaços são construídas identidades individuais e sociais, num processo de significação do território que os sujeitos se apropriam e dominam.Com essa noção, Schrijnemaekers (2006, p...

Habitar na pandemia: a influência da arquitetura nas condições de bem-estar domiciliar das mulheres idosas

“…Sendo assim, entende-se que a casa se torna casa pelo fato de se estar vivendo nela. Ainda segundo Azeredo (2016), o espaço construído da habitação não é indiferente às experiências dos sujeitos que a habitam, pois os acontecimentos do dia a dia tornam a casa um espaço vivo, construído não apenas pelo erguer de suas paredes, mas conformado também pelos eventos da vida particular de seus moradores, o que faz da casa um lar (AZEREDO, 2016). Apesar de, do ponto de vista geográfico, a casa ser uma porção do território no espaço, ela se constitui como lugar onde espaço e tempo se misturam e também representa, em sua arquitetura, noções de diferenciação social, o que aponta para relações que se estabelecem entre o seu espaço e o da rua, o público e o privado (AZEREDO, 2016).…”

“…Segundo Azeredo (2016), a casa comunica o estilo de vida de seus moradores, simultaneamente em que se revela enquanto espaço de convívio entre pessoas diferenciadas por sexo, idade, raça, religiosidade e nível educacional; portanto, "ao expressar seus aspectos demográficos, a casa simboliza uma porção dinâmica do espaço societário na forma de interseção entre as esferas macro e microssocial" (AZEREDO, 2016, p. 216).…”

“…No aspecto psicológico, a casa exerce forte influência na personalidade de quem nela vive e convive (AZEREDO, 2016). A casa é, por excelência, o lugar onde os habitantes buscam a satisfação das suas necessidades básicas, é entendida como espaço de apoio e também pode ser considerada a representação da necessidade psicológica de reconhecimento e status social (AZEREDO, 2016).…”

“…No aspecto material, a casa espelha ideias de diferenciação social expressas na representação que suscita sobre seus habitantes em torno de algumas ideias como renda familiar, escolaridade, ocupação (AZEREDO, 2016). Por isso, a casa pode ser considerada como um objeto sinalizador que media as relações entre os espaços residencial e o espaço da rua, o privado e o público.…”

“…Por isso, a casa pode ser considerada como um objeto sinalizador que media as relações entre os espaços residencial e o espaço da rua, o privado e o público. Para Azeredo (2016), o ato de morar sugere uma interpretação territorial. O controle do espaço da casa por seus moradores, as ações exercidas sobre a moradia e as consequentes modificações feitas no espaço expressam a territorialidade, sendo esta que desenha a identidade dos que nela habitam, permitindo que a casa dialogue com o bairro.…”