Abstract:O paradigma da secularização combina duas coisas: uma afirmação sobre mudanças na presença e na natureza da religião, e um conjunto de explicações relacionadas a essas mudanças. Ele não é uma lei científica universalmente aplicável, mas uma descrição e explicação do passado das sociedades europeias e suas descendentes coloniais. Ao contrário das caricaturas frequentemente repetidas, não é um simples modelo evolucionista e não implica um único e uniforme futuro -mas sim supõe que há uma "sócio-lógica" para as m… Show more
“…Nesse cenário, saem perdendo as religiões mais tradicionais, que oferecem bens de salvação muito intangíveis, no além. Seu declínio é constatado de forma quase unânime na literatura acadêmica nacional e internacional (Bruce, 2016;Casanova, 2007;Heelas, 2006;Hervieu-Léger, 1997Pierucci, 2004;Prandi e Santos, 2015). Por outro lado, ganham aquelas denominações, como as evangélicas pentecostais, que dizem poder oferecer Deus já, agora, sem que se precise mudar radicalmente de vida, de gostos e costumes (Prandi, Santos e Bonato, 2019;Mariano, 1999).…”
Section: Bourdieu Apud Pierucci: As Ciências Sociais Da Religião No Bunclassified
O artigo procura reconstruir a repercussão da crítica bourdieusiana à produção sociológica sobre os fenômenos religiosos, a qual aponta para a dificuldade que perpassa o envolvimento do pesquisador com seu objeto de estudo. Na sociologia da religião praticada no Brasil, tal crítica suscitou (e ainda suscita) intenso debate, sobretudo após ter sido mobilizada com intenção declaradamente polemista por um dos ícones dessa área no contexto nacional, Antônio Flávio Pierucci. A intenção aqui é não apenas analisar como a discussão se desdobrou e os argumentos mobilizados ao longo da controvérsia, mas também reafirmar a importância dos postulados de Bourdieu, defendendo a pertinência de seu uso na interpretação da dinâmica religiosa em nosso país.
“…Nesse cenário, saem perdendo as religiões mais tradicionais, que oferecem bens de salvação muito intangíveis, no além. Seu declínio é constatado de forma quase unânime na literatura acadêmica nacional e internacional (Bruce, 2016;Casanova, 2007;Heelas, 2006;Hervieu-Léger, 1997Pierucci, 2004;Prandi e Santos, 2015). Por outro lado, ganham aquelas denominações, como as evangélicas pentecostais, que dizem poder oferecer Deus já, agora, sem que se precise mudar radicalmente de vida, de gostos e costumes (Prandi, Santos e Bonato, 2019;Mariano, 1999).…”
Section: Bourdieu Apud Pierucci: As Ciências Sociais Da Religião No Bunclassified
O artigo procura reconstruir a repercussão da crítica bourdieusiana à produção sociológica sobre os fenômenos religiosos, a qual aponta para a dificuldade que perpassa o envolvimento do pesquisador com seu objeto de estudo. Na sociologia da religião praticada no Brasil, tal crítica suscitou (e ainda suscita) intenso debate, sobretudo após ter sido mobilizada com intenção declaradamente polemista por um dos ícones dessa área no contexto nacional, Antônio Flávio Pierucci. A intenção aqui é não apenas analisar como a discussão se desdobrou e os argumentos mobilizados ao longo da controvérsia, mas também reafirmar a importância dos postulados de Bourdieu, defendendo a pertinência de seu uso na interpretação da dinâmica religiosa em nosso país.
“…Essa gestão burocrática dos ensinamentos e compromissos religiosos inclui também o ajuste entre as demandas por mudanças (para "alcançar" o mundo que se transforma continuamente) e as diretrizes religiosas tradicionais (rotinizadas). Ao exercerem esse papel de legitimação que alinha o que é novo com o que sempre foi, são os sacerdotes que garantem a manutenção da "ordem" nas estruturas eclesiásticasindependentemente da controvérsia sobre se as incorporações e os movimentos de transformação e acomodação levam a rupturas cíclicas e cismas que restauram as tensões com o mundo (Stark e Bainbridge, 1985;Berger, 2000;Finke, 2004) ou a uma secularização progressiva (Bruce, 1996(Bruce, , 2016Wilson, 1979;Pierucci, 1997).…”
Section: Condicionantes Organizacionais Da Mudança Religiosaunclassified
“…Diante desses e de outros empecilhos que se apresentam na interlocução com os circuitos institucionais, muitos fiéis podem optar por flexibilizar suas identidades religiosas com objetivo de incluir pautas, tais como a agenda ambiental, alheias àquilo que é tradicionalmente defendido por suas denominações (Pierucci, 1997;Willaime, 2012;Bruce, 2016). Como aponta Hervieu-Léger (2006: 59), nesses casos, os indivíduos rejeitam as restrições denominacionais e utilizam de forma relativamente autônoma seus estoques simbólicos em diversos tipos de bricolagens, isto é, na construção de "pequenas narrativas religiosas" que não se limitam aos ensinamentos oriundos de uma tradição específica.…”
Section: Condicionantes Organizacionais Da Mudança Religiosaunclassified
Aos professores e funcionários do Departamento de Sociologia da USP, muitos dos quais já me aturam desde a época da graduação. Em especial, agradeço às professoras Maria Helena
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