A realidade da raça não é mais biológica, mas sim histórica, política e social. A palavra continua sendo usada como uma categoria de análise para entender o que aconteceu no passado e o que acontece no presente. O nó central do problema não é a raça em si, mas sim as representações dessa palavra e a ideologia dela derivada.Kabengele Munanga (2003) Na sociedade neoliberal da escassez em que vivemos na atualidade, retoma-se a dimensão racial imposta por discursos xenófobos, misóginos ou sexistas ou pelas entrelinhas de discursos médicos e científicos, determinando a hierarquização da vida social, modelando corpos e mentes, impondo regras e formas de exposição, agora sob a insígnia de um estilo de vida capaz de exaltar, quando não reparar a própria raça, numa espécie de eugenia revisitada. Podemos encontrar no cotidiano de diferentes grupos, povos e lugares a promessa de felicidade e estabilidade que deve ser buscada no corpo e em suas representações de existência, sempre sob pressões a partir da identificação de aspectos de suas origens, mas também por sua possível retificação ou modelagem, dissimulando qualquer sensação ou sinal de fraqueza, tristeza ou adoecimento, numa verdadeira ode a uma concepção de base racial, de que há grupos superiores e inferiores.Por esse viés, uma certa concepção de raça sempre foi uma instância observável da experiência humana, mas pouco se falava numa memória históri-