Risco de uberização do trabalho de enfermagem em tempos de pandemia da Covid-19: relato de experiência

Abstract

Objetivo: Descrever a experiência de contratação e atuação laboral da enfermagem, no contexto da assistência para pacientes com Covid-19, e discutir formas de empoderamento da enfermagem para enfrentamento e transformação de um cenário de trabalho que precariza o trabalhador. Método: Trata-se de um relato de experiência, ocorrido em maio e junho de 2020, no Rio de Janeiro, Brasil, que versa sobre condições e vínculos laborais em ambiente de atendimento a pessoas com Covid-19. Resultados: Verificou-se a extrema precarização do trabalho de enfermagem, o que aponta para um processo de uberização da profissão. Observou-se a disponibilidade diuturna do profissional para o trabalho (trabalhador just-in-time); a responsabilidade de adquirir os próprios equipamentos de proteção individual e a renumeração por hora trabalhada. Considerações finais: Preocupa a combinação deste contexto precarizado com o cenário da pandemia, uma vez que potencializa o adoecimento do trabalhador de enfermagem, carecendo de medidas de enfrentamento e empoderamento da enfermagem para transformação dessa situação.

Desafios e alternativas às formas de resistência e organização coletiva da classe trabalhadora em contexto de plataformização do trabalho

“…A combinação desses fatores pode ser observada em diferentes categorias profissionais cujo trabalho se encontra mediado por plataformas digitais. Entre as publicações analisadas, destacam-se, principalmente, estudos envolvendo trabalhadores da educação (OLIVEIRA; PINO; ACCORSSI, 2021; SILVA, 2019; VENCO, 2019), da saúde (COSTA et al, 2020;SOUZA et al, 2020), e entregadores e motoristas particulares (ABÍLIO, 2019(ABÍLIO, , 2020(ABÍLIO, , 2021FREITAS, 2020;BRIDI, 2019;RAPOSO, 2020). Diante da especificidade de cada uma dessas categorias, é possível destacar um ponto de interseção próprio da dinâmica da plataformização do trabalho e que diz respeito ao processo de valorização do gerencialismo pela sociedade, uma vez que as formas de controle e avaliação dos trabalhadores são concebidas, nesse modelo, pelos próprios consumidores de seus serviços (FRANCO; FERRAZ, 2019).…”

“…Em paralelo, Souza et al (2020) abordam a experiência de contratação e a atuação laboral de profissionais da enfermagem no contexto da assistência a pacientes com covid-19, por meio de um relato de experiência vivido por uma das autoras do estudo. As pesquisadoras apontam que o trabalho da enfermagem vem passando por um amplo processo de plataformização, consolidado pela disponibilidade diuturna do profissional para o trabalho ('trabalhador just in time'); pela responsabilidade de adquirir os próprios Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e pela remuneração por hora trabalhada.…”

“…2020),Souza (2021) eSouza et al (2020) fornecem importantes subsídios para as análises acerca do binômio uberização-pandemia.…”

Saúde urinária e intestinal de profissionais de enfermagem em tempos de pandemia da COVID-19: uma reflexão teórica

“…Sobretudo, com a pandemia da COVID-19 constatou-se um desabastecimento dos EPI´s devido a alguns fatores como, por exemplo, um planejamento equivocado das instâncias governamentais e das gerências dos serviços a fim de suprir as necessidades dos trabalhadores da saúde no exercício das suas funções; a aquisição desses equipamentos pela população em geral levando à carência destes no mercado; o uso não racional dos EPI´s pelos profissionais, entre outras situações. Verificouse também equipamentos de proteção individual com qualidade inadequada e/ou ergonomicamente inapropriados (Souza et al, 2020). Salienta-se que um dos desdobramentos da situação de escassez de EPI é o seu uso pelos trabalhadores por tempo maior que o recomendado pelo fabricante, por receio da não reposição ou pela sua própria carência, o que gera dúvidas em relação a capacidade de proteção contra os riscos ocupacionais.…”