Resumo: Neste artigo, esboço as principais concepções de performance que têm norteado trabalhos linguisticamente orientados acerca do tema, suas origens e como se relacionam ou divergem. Considero primeiramente o potencial pouco desenvolvido do trabalho orientado para a performance na sociolinguística variacionista, para depois examinar a performance enquanto exibição virtuosística, conforme tem se desenvolvido sobretudo na antropologia linguística. Em seguida, foco a performance enquanto teatralidade, com atenção especial para a análise da ordem da interação, bem como a performance cultural como evento destacado e relevado que fornece uma perspectiva ricamente reflexiva sobre a cultura. Concluo com uma discussão sobre a performance mediatizada e a produtividade do conceito de remediatização na redução da distância entre a performance copresente e a performance mediatizada.Palavras-chave: ordem da interação; performance; remediatização; teatralidade; exibição virtuosística.
IntroduçãoA s perspectivas linguisticamente orientadas começaram a ganhar espaço nos estudos brasileiros sobre performance, especialmente a partir das pesquisas e dos ensinamentos de Esther Jean Langdon, na Universidade Federal de Santa Catarina. Mesmo assim, para muitos leitores desta revista talvez seja útil contextualizar um pouco o presente artigo. A concepção de performance desenvolvida nos meus trabalhos está baseada na antropologia linguística, um dos quatro subcampos da disciplina da antropologia na América do Norte (os demais campos são a antropologia sociocultural, a antropologia biológica e a arqueologia). Meu trabalho está mais especificamente inserido na linha de pesquisa conhecida como etnografia da fala, focada na reconhecida utilização da língua na realização da vida social. Visto que as formas de performance estão caracteristicamente entre os componentes mais pú-blicos, altamente valorizados, memorizáveis e reprisados do repertório verbal de uma comunidade, eles têm desempenhado um papel proeminente como foco de atenção na etnografia da fala e na antropologia linguística de modo geral.Desde sua primeira consolidação como programa de pesquisa, entre meados dos anos 1960 e meados dos anos 1970, a etnografia da fala e as abordagens relacionadas à antropologia linguística têm criado ligações intelectuais com outras linhas de pesquisa com enfoque nas relações entre linguagem e sociedade. Uma conexão inicial e frutífera estabeleceu a ligação entre a etnografia da fala -incluindo a etnografia da