Este trabalho tem como tema principal a observação e discussão de aspectos declamatórios na interpretação da obra para piano de Beethoven. Essa investigação foi concretizada pela análise das ligaduras e outros sinais de notação nas sonatas para piano do compositor, com base em partituras que apresentam diferentes graus de intervenção editorial. Estes elementos foram discutidos considerando-se processos históricos como a canonização da figura do compositor, de suas obras e consequentemente das formas de interpretá-las. A partir da literatura foram identificadas duas principais posturas interpretativas: uma modernista e outra retórica.Remontamos as primeiras manifestações desta prática modernista de interpretação a partir de publicações sobre a obra para piano do compositor escritas por seu ex-aluno, Carl Czerny, ainda no século XIX. Através das contribuições de tratadistas do classicismo musical germânico foi possível verificar o quanto Beethoven foi influenciado pela tradição musical do século XVIII, mantendo em sua escrita aspectos declamatórios relacionados ao pensamento musical retórico, em dissonância com as orientações de Czerny. Este conflito se faz presente na dificuldade de se compreender o emprego das ligaduras realizado pelo compositor em toda a produção de suas sonatas para piano, que tende a ser reconhecido como problemático por pesquisadores sobre o tema até os dias atuais. Estes aspectos de notação tendem a confirmar a preocupação do compositor com a acentuação adequada das estruturas musicais, reconhecidos principalmente através do emprego das ligaduras. A compreensão destes elementos de notação foi exemplificada através de partituras das sonatas do compositor buscando esclarecer a lógica de sua aplicação a partir de informações reunidas em tratados do final do século XVIII e de publicações de autores do século XX.