Repensando o processo de empresarização: a inserção de um olhar de inspiração Foucaultiana

Abstract

O presente artigo visa abordar e discutir os estudos sobre o processo de empresarização do mundo no âmbito dos estudos organizacionais e apontar um novo caminho para se repensar os escritos sobre esse tema. Dito isso, este trabalho articula e desenvolve um novo olhar a partir de uma perspectiva foucaultiana, a qual busca compreender, de forma complementar ao que já foi escrito, o fenômeno da empresarização. Para tanto, optou-se pela realização de um artigo de cunho teórico, realizado a partir de uma revisão dos escritos acerca da teoria da empresarização nos estudos organizacionais, bem como dos escritos do filósofo Michel Foucault. Cabe destacar, por fim, que o intuito de mobilizar as contribuições teóricas de algumas das obras de Michel Foucault está diretamente relacionado com o propósito de lançar um olhar complementar para se pensar o fenômeno da empresarização como um processo que se manifesta a partir da centralidade e do poder da empresa na modernidade, além de evidenciar a potência que o fenômeno possui através da construção de uma visão que privilegia as relações de poder.

O mito autorizado do neoliberalismo na era digital: como a internet intensifica a institucionalização do pensamento neoliberal?

“…Eles são consequências de relações e instâncias de poder que lhe dão origem e passam a ser materializadas nas práticas sociais dos indivíduos, produzindo-lhes efeitos. Assim, emerge um saber-poder que, nesse caso, reflete as práticas e maneiras de agir e pensar próprias do neoliberalismo (Silva e Machado Junior, 2014, Foucault, 2014Franz, 2019).…”

“…Torna-se interessante, a partir deste contexto, entender o discurso neoliberal como uma forma de poder que tanto age na produção desse indivíduo empresário de si como na forma como ele narra e compreende a si mesmo. A partir da força do neoliberalismo como uma forma de governo, seus próprios discursos podem assumir distinta importância, na medida em que se tornam socialmente legitimados (institucionalizados) como "padrões ideais de conduta a serem praticados pelos indivíduos 2 " (Franz, 2019;Foucault, 1999;Faria e Meneghetti, 2001).…”

O processo de empresarização e o discurso da universidade empreendedora: Uma análise da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

“…Isso porque todo saber implica a imposição e constituição de relações de poder. Cabe destacar ainda que essas relações de saber-poder potencializam a sua disseminação e acabam colocando em circulação determinadas normas, crenças, práticas e cultura, as quais passam a ser difundidas por todo o social (Franz & Rodrigues, 2019).…”

“…O que mantém e sustenta a ideia de empresa e, consequentemente, todo o seu poder, são distintas estratégias e correlações de forças, as quais envolvem uma série de construções discursivas, além de diferentes estruturas e sistemas de controle, os quais são produzidos e difundidos pelos mais variados meios (Franz & Rodrigues, 2019).…”

“…Tais discursos e estruturas e sistemas de controle são construídos e difundidos a partir de um amplo processo histórico o qual envolve relações de força, disputas, jogos de interesses e tensões entre diferentes sujeitos, interessados e intimamente envolvidos nesse processo para que sejam legitimados socialmente, concorrendo para consolidar aquilo que será aceito e funcionará como verdadeiro (Foucault, 2014). Ou seja, uma determinada política de verdade 4 , na qual as características e as maneiras de agir e de pensar que constituem a ideia empresa são naturalizadas e tomadas como referência, sendo comumente associada aos ideais de desempenho, inovatividade, resultado, eficiência, progresso e, conforme destaca Solé (2008), como fonte de felicidade (Franz & Rodrigues, 2019).…”