Relações e avanços entre a Linguística Aplicada e o hispanismo no Brasil

Abstract

Existe um debate no âmbito do Hispanismo brasileiro em relação a como as pesquisas dos estudos hispânicos se inserem ou não no fazer científico da Linguística Aplicada (LA). Desde a publicação de algumas reflexões de Paraquett (2009, 2012), ocorreu certo deslocamento e compreensão do papel do linguista aplicado, da ausência de pesquisas envolvendo a língua espanhola e a LA e dos desafios dessa relação. Por meio de uma pesquisa de revisão bibliográfica e documental, propomos neste artigo questionar o conceito de Hispanismo e a representação acadêmica de sua Associação de pesquisa, a evolução da LA e o papel da Associação de Linguística Aplicada do Brasil (ALAB) no desenvolvimento da área. Com isso, queremos verificar a possibilidade de integração entre a LA e as pesquisas na área de espanhol, questionando se esse diálogo ocorre desde o âmbito da Pós-graduação. Constatamos a necessidade de encorajar novos pesquisadores a se aproximarem da LA e tentar alinhar seu trabalho às novas perspectivas teóricas e metodológicas dessa ciência social, colaborando assim para o crescimento de pesquisas em LA e espanhol. Advertimos para a necessidade de revisão da Associação de pesquisa do Hispanismo para novos compromissos e pautas tomando como referência o trabalho desenvolvido pela ALAB.

Linguística Aplicada e Hispanismo

“…Pesquisas anteriores (SOTO, 2004;MATOS, 2013;PARAQUETT, SILVA JUNIOR, 2019;SILVA JÚNIOR, 2020) levantaram e analisaram dados sobre os estudos hispânicos em publicações e na produção científica no âmbito da Pós-graduação brasileira, além de relacionar à área da Linguística Aplicada e alguns caminhos puderam ser trilhados sobre nossa história. Paraquett, por exemplo, (2012, p. 230) apontou sobre a nossa ausência em publicações da área da LA, dizendo que "nenhum de nós saiu naquela foto", mas aqui nesta obra vemos uma foto com diversos pesquisadores que se dedicam à Linguística Aplicada (LA) em sua vertente atual.…”

“…Como forma de exemplificar essa assimetria, podemos trazer à tona uma diferença temporal entre a produção científica nacional entre as áreas de língua inglesa e espanhola e de como isso pode afetar as comunidades profissionais. Enquanto a perspectiva reflexiva de formação de professores e o pós-método requeriam uma nova abordagem e postura por parte do professor de língua inglesa em torno de 1990, conforme nos apontou Celani (2009) ao rememorar o ensino de línguas para fins específicos no Brasil, o campo de ensino de espanhol, nessa mesma época, iniciava a aproximação aos estudos de base comunicativa e de natureza sociolinguística (SILVA JÚNIOR, 2020). Somente com essa breve aproximação temporal já se evidencia como os estudos hispânicos precisaram dar conta em pouco tempo de discursos científicos que procuraram construir uma reflexão sobre as linguagens e o ensino de línguas na realidade brasileira.…”

“…De acordo com Silva-Júnior (2020), no início do surgimento dos cursos de graduação de Letras: Espanhol no Brasil, havia uma carência de massa crítica e referencial teórico para a discussão sobre o ensino dessa língua no país. Isso acarretou a adoção de práticas e referências do grande centro formativo de professores de espanhol na época: a Espanha.…”

“…Nas últimas décadas, um número crescente de estudos (SOTO, 2004;PARAQUETT, 2009MATOS, 2013;CARVALHO, 2019;SILVA JÚNIOR, 2020) nos permitem questionar acerca das proximidades e distanciamentos entre os estudos hispânicos e o campo da Linguística Aplicada, embora nem todos tivessem exclusivamente esse propósito. A fim de investigar um diálogo entre pesquisas na área de espanhol e a Linguística Aplicada, o professor e pesquisador Silva Júnior (2020) realizou uma revisão bibliográfica e documental, na qual pondera diversas questões síncronas e assíncronas que contribuíram/contribuem para o distanciamento entre a área de LA e o Hispanismo brasileiro, tais como: o foco puramente linguístico ou literário das pesquisas hispânicas; as discussões tardias e limitadas sobre a didática da língua espanhola; os debates sobre epistemologias e metodologias da LA restritos à Pós-Graduação; e maior participação de investigadores da área de língua inglesa e portuguesa e poucas interlocuções dos pesquisadores de língua espanhola na ALAB.…”

“…Vale evidenciar que entendemos por hispanismo um ramo científico que inclui as literaturas espanhola e hispano-americana, a língua espanhola, a história, as artes e a cultura dos países de língua espanhola, sendo um conjunto de interesses de natureza multi/transdisciplinar (SILVA JÚNIOR, 2020). Por considerar, ainda hoje, que esse diálogo na área dos estudos hispânicos é interno ao próprio âmbito, este artigo tem interesse justamente em refletir sobre a contribuição dos discursos sobre ensino de língua inglesa para a área de espanhol.…”