A partir do final do XVIII, no Ocidente, o hábito de consumir bebidas alcoólicas em excessivo e regularmente começou a ser visto por uma parte das elites intelectuais, principalmente a identificada dos ideais da Ilustração, como um problema social. A partir daí, aos poucos, diversos setores da sociedade que foram influenciados pelo pensamento ilustrado, em particular os da área médica, começaram a combater tal hábito produzindo textos mostrando os males do alcoolismo para o indivíduo e sociedade. Neste artigo será analisado como esse combate foi iniciado no Brasil do século XIX, com o objetivo de conhecer as motivações dos que o levaram a cabo e como estes fundamentaram intelectualmente o seu empenho. Para isso, serão utilizadas as teses médicas defendidas na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro à luz da bibliografia especializada no assunto, as quais serão interpretadas com base no conceito de cultura formulado por Peter Burke e no conceito de campo formulado por Pierre Bourdieu, para mostrar que neste país membros da sua elite médica também se engajaram naquele combate e, com isso, acabaram contribuindo para começar a colocar o enfrentamento ao vício do consumo de bebidas alcoólicas na agenda pública nacional.