O envelhecimento caracteriza-se como um processo heterogêneo, com mudanças físicas e biológicas, bem como abrange inúmeras possibilidades e desafios a serem enfrentados nos âmbitos social, econômico, cultural e familiar. A doença de Alzheimer (DA) apresenta-se com uma prevalência crescente no quadro de doenças demenciais, correspondendo até 50-70% dos casos. O quadro demencial torna-se mais grave conforme a progressão dos sintomas manifestados pela deterioração cognitiva, de memória, alterações comportamentais, dificuldade na realização das atividades de vida diária (AVDs) e sintomas neuropsiquiátricos. A intensa necessidade de acompanhamento pode caracterizar a DA como uma doença familiar, uma vez que o adoecimento do idoso causa um impacto muito significativo na dinâmica da família. O papel exercido pelo cuidador do idoso com Alzheimer é caracterizado como um trabalho de intensa sobrecarga e precedente para o aparecimento de doenças psicológicas, devido aos sérios fatores estressantes oriundos das exigências dos cuidados integrais. O relato de caso é de caráter qualitativo, realizado por meio da coleta de dados via narrativa da família estudada, em visitas domiciliares por 4 meses. A análise dos dados incluiu a observação direta da dinâmica familiar no contexto da Doença de Alzheimer e a análise dos depoimentos dos membros da família e cuidadores, respeitando a privacidade dos indivíduos. M.C., 86 anos de idade, foi diagnosticada com Doença de Alzheimer há 3 anos. A piora do quadro de demência levou a uma grave desnutrição e desidratação, fato que culminou em dificuldade de fala, de deambulação, comportamento agressivo, além de tornar-se cada vez mais dependente. Sua vestimenta, higiene, alimentação e bem estar passaram a ser algumas das preocupações constantes de V.S., nora e cuidadora em tempo integral, a qual passou desenvolver níveis de estresse e ansiedade. A idosa em estágio avançado de Alzheimer, apresentava sintomas típicos da doença como perda progressiva da memória, afasia, apraxia, crises de agressividade, agitação psicomotora, alterações cognitivas e comportamentais severas. O processo de adaptação dessa doença degenerativa ocorre de forma gradual e particular, uma vez que requer uma reestruturação e modificação dos papéis no conjunto: novos horários, atividades, cuidados, diferentes redes de relacionamentos, interações e tomadas de decisões. Nesse contexto, cada indivíduo da família apresenta influência para a manutenção da harmonia das relações. Os cuidadores de pacientes com demência possuem maiores chances de ter sintomas psiquiátricos, conflitos familiares e problemas no trabalho. Este grupo demonstra um pior julgamento sobre a própria saúde e sentem-se mais aflitos com sua vida afetiva e social. Pode-se concluir que o impacto de uma enfermidade crônica e neurodegenerativa, como a doença de Alzheimer, inclui mudanças não apenas na vida do doente, mas também na de sua família. Além da grande dificuldade emocional em vivenciar essa doença no núcleo familiar, existe a necessidade de reestruturação de rotinas e hábitos, que por vezes culmina na sobrecarga de atividades para o cuidador, o qual fica exposto a fatores estressores intensos.