Reconstrução em Movimento: Impactos do Terremoto de 2010 em Imigrantes Haitianos

Abstract

Resumo A cultura oferece rituais e discursos que orientam o indivíduo, inclusive nos acontecimentos que excedem as possibilidades imediatas de representação psíquica, os eventos traumáticos. Em janeiro de 2010, o Haiti foi atingido por um terremoto com proporções catastróficas. A dificuldade do país em responder ao ocorrido, que agravou a situação precária da maioria de sua população, levou muitos haitianos a emigrarem, sendo o Brasil um dos destinos – ainda que provisório. O processo migratório, principalmente nas migrações involuntárias, implica em diversas mudanças e pode levar o sujeito a um estado de vulnerabilidade psíquica, pois muito daquilo que o orientava em sua existência é ameaçado pelo contato com a cultura diferente. O objetivo principal deste estudo foi analisar quais os impactos psicológicos do terremoto que, além de levar a experiência do imprevisível pelo evento em si, foi seguido de uma migração necessária para a continuidade e reconstrução da vida. De natureza qualitativa e exploratória, o procedimento de coleta de informações se deu por meio de entrevistas semiestruturadas. Aplicou-se a análise de conteúdo das narrativas, orientada pelo olhar psicanalítico e etnopsiquiátrico. Os resultados demonstram que a lembrança traumática, as perdas de pessoas próximas, a casa, o trabalho e a educação foram acrescidos às dificuldades de uma migração que, apesar de facilitada legalmente, é vivida com dificuldade de integração pela maioria desses sujeitos. Em contrapartida, o desejo de reconstrução da história individual e coletiva apresenta-se como importante força na vida dessas pessoas que, mesmo a distância, procuram compartilhar projetos com os conterrâneos.

Migration experience and mental health: A qualitative study in France and Brazil

“…Their discourse showed that this role was a source of stress for participants, who in many cases preferred to live in bad conditions in Brazil to be able to support their families. Other qualitative studies developed in Brazil also reported important distress related to post-migration living difficulties, such as unemployment, discrimination and distance from family (Barros & Martins-Borges, 2018; Hoefel et al, 2019; Melo & Romani, 2019). Hoefel et al (2019) described work as a structural component in the life of migrants living in Brazil, being directly linked with migrants’ health and inclusion in the society (Hoefel et al, 2019).…”

Resiliência de imigrantes haitianos frente ao processo de adaptação no novo país: impactos na saúde mental

“…O grupo dominante tende a utilizar esse subterfúgio como justificativa para praticar a exclusão do grupo dominado, afirmando que estes são incapazes de seguirem as normas locais vigentes (Diehl, 2016). Sobre as políticas de inclusão e aculturação, Barros (2016) presume que a criação da Resolução Normativa (RN) 97/2012, que dispõe sobre a concessão do visto permanente aos haitianos, foi uma manobra do governo brasileiro para acolher legalmente esse grupo. É comum os haitianos escolherem vir para cá, pautados na imagem que têm deste país: facilidade na entrada e permanência, empregos disponíveis ou possibilidades de formação profissional, destino provisório.…”

Psychologists’ Perspectives on the Psychological Suffering of Refugee Patients in Brazil

“…In Latin American countries until 2009 few studies concerning refugees had been conducted (de Moraes Weintraub 2012;da Teixeira, Lotufo Neto and Skokauskas 2013). However, recently, with the increase in migrants and refugees, particularly from Haiti and Venezuela, more studies have focused on refugees in Latin America, such as on Colombian refugees in Ecuador (Carrasco García 2010) or in Chile (Liberona Concha and López San Francisco 2018), on Palestinian refugees in Chile (Bijit Abde 2012), on Haitian immigrants (Barros and Martins-Borges 2018) and on Syrian refugees in Brazil (Jibrin 2017;Lodetti 2018). However, there remains a need to study concepts of pathology, in particular related to the mental health of refugees, in a greater variety of cultures and contexts (Duden & Martins-Borges 2021) and to insert such studies and their findings into an (Anglophone-dominated) global research world, in order to call international attention to these studies and findings from diverse contexts.…”

“…Investigating their experiences and knowledge might be a valuable first step for understanding refugee patients' situation in Brazil and develop appropriate mental healthcare services. We focused on professionals in Brazil for two main reasons: Firstly, even though there has been a recent increase in studies investigating various aspects of refuge in Brazil (Duden & Martins-Borges 2021;Barros and Martins-Borges 2018), there is still little information concerning their mental health across several Brazilian states (Braga Bezerra, Martins-Borges and Cunha Pereira 2019;de Moraes Weintraub 2012;da Teixeira, Lotufo Neto and Skokauskas 2013), and even more so, a lack of international attention to this specific field of research. Secondly, gaining the perspectives of experts from a country from the Global South might provide new insights for the discussion on the categorisation of mental disorders (Drodžek 2007;Kirmayer 2001;Summerfield 1999Summerfield , 2008.…”