“…De facto, algumas características por elas mais apontadas sobre o/a bom/boa político/a ou o seu ideal surgem já mais associadas ao estereótipo feminino, como a "preocupação com a sociedade", os "interesses da população" e a "promoção do bem comum" (Santos e Amâncio, 2010a). Já relativamente ao mérito, entre os discursos, bastante heterogéneos, encontrados, relativamente às quotas e à Lei da Paridade, emergiu um forte sentimento de "desconfiança" ou de "dúvida" no que respeita à competência das mulheres que ingressam na política através deste tipo de "ferramentas artificiais", quer entre os deputados, sobretudo de direita (Santos e Amâncio, 2011), quer entre as/os estudantes universitárias/os, sobretudo os homens (Santos e Amâncio, 2010b), para quem este processo irá certamente diminuir a qualidade da política. Esta expectativa de menor mérito, por parte das mulheres, para a política, um mundo historicamente masculino (Lisboa e outros, 2006), que nunca é/foi questionada no caso do homens (Gaspard, Servan-Schreiber e Gall, 1992), revela bem que o mérito não é neutro, mas genderizado, ou seja, que a ideologia de género "contamina" a avaliação do mérito.…”