Raça, Sexualidade, Gênero E a Construção Do Saber Psiquiátrico Brasileiro: A Alienação Em Questão

Abstract

Este ensaio visa discorrer acerca da construção do saber psiquiátrico brasileiro durante a primeira república e a articulação desta com as questões da ordem da sexualidade, raça e gênero. A metodologia utilizada neste trabalho é a pesquisa exploratória qualitativa cujo método se dá através de uma revisão bibliográfica em fontes primárias como livros, artigos e demais produções acadêmicas para embasar as considerações deste artigo. Embora o adoecimento mental tenha recebido diferentes significantes ao longo do tempo: como possessão e alienação; esse fenômeno está arraigado ao processo de civilização que se estabelece através de dinâmicas intersubjetivas que pressupõem dimensões de poder. Em meados do século XVIII o alienismo surge como uma espécie de “terapêutica da moral” (AMARANTE, 2007) articulando questões caracterológicas e moralistas como elementos etiológicos das desordens mentais. No século seguinte a agora denominada psiquiatria inclui novas referências como raça, gênero e condutas sexuais como pressupostos não somente das psicopatologias como também as correlaciona à ciência forense e criminologia servindo de balizador para os dispositivos jurídico-legais brasileiros. Por fim refletiremos a interseção desses elementos ao arcabouço teórico do saber psiquiátrico brasileiro e a terapêutica de sujeitos em sofrimento mental.

Caminhos do cuidado: A psicanálise como estratégia em promoção de saúde

“…A Idade Média, embora marcada por diversas epidemias e mazelas, não avançou no que tange o entendimento de saúde e sua promoção, ao contrário, a "idade das trevas" resgata cunho demonológico ao adoecimento e a cura como uma questão de fé. Nesse período a questão do adoecimento mental constitui-se numa problemática social que precisa de uma solução urgente, instituindo assim o esboço de uma política de higienização populacional através das chamadas "Naus dos Loucos" ou do asilamento nos primeiros espaços assistenciais chancelados pela Igreja Católica cunhados "Santas Casas de Misericórdia" (Foucault, 1978;Santos, 2022).…”

“…Salpêtrière em 1657 destinado às pessoas com distúrbios mentais, pobres e com comportamento socialmente indesejável. Através do surgimento de novas especialidades médicas como a cirurgia geral, o adoecimento assume um status biológico mobilizando a pesquisa e a produção de conhecimento, inaugura-se uma política hospitalocêntrica e de segregação de doentes, miseráveis, insanos e inválidos para o processo produtivo, fenômeno conhecido a "grande internação" (Amarante, 2019;Santos, 2022). Scliar (2007) salienta que na transição da idade média para a moderna o cunho místico das psicopatologias vai perdendo espaço para uma perspectiva médico-científica.…”