Prolongando a leitura da militante nigeriana Sokari Ekine, a propósito do conflito entre duas narrativas opostas da África queer, este texto mostra que estas narrativas correspondem aos dois polos opostos do que podemos chamar de “guerras culturais norte-americanas” (Kaoma, 2009). Apesar de serem mobilizadas por grupos políticos rivais – os líderes africanos que proclamam a não africanidade da homossexualidade e as ONGs internacionais que denunciam o fenômeno da “homofobia africana” – esses discursos mostram sua fragilidade ao apresentarem a África como uma realidade uniforme, encarnando o olhar neoimperialista e racista do Ocidente, que oculta a pluralidade das culturas e das vivências africanas. Esta compreensão, presente entre xs acadêmicos e militantes africanxs, que lutam pela dissidência sexual, será aqui entrelaçada com a leitura de Kapya Kaoma, que denuncia a exportação das guerras culturais estadunidenses e a ação de igrejas evangélicas ligadas à direita cristã norte-americana, em muitos países da África. A este propósito, torna-se necessário passar por uma breve apresentação da noção de guerras culturais mobilizada pela direita cristã estadunidense e por uma análise de suas pautas antigay. Articulando a tese de Kaoma com algumas das análises da crítica queer of color, tentaremos questionar a narrativa homonacionalista do excepcionalismo ocidental em matérias de gênero, sexualidades e democracia.