Recebido em 23/2/06; aceito em 16/5/06; publicado na web em 26/9/06 MERCURY EMISSIONS TO THE ATMOSPHERE FROM NATURAL GAS BURNING IN BRAZIL. Increasing natural gas use in Brazil triggered a discussion of its role as a Hg source. We show that Hg emissions to the atmosphere from fossil fuel combustion for power generation in Brazil contribute with 6.2% (4.2 t yr -1 ) to the total anthropogenic Hg atmospheric emissions, with coal combustion and biomass burning as major sources. Natural gas contributes with 0.04 t yr -1 , mostly from electricity generation (88%) and industrial uses (7.6%). Preliminary results on Hg concentrations in natural gas suggest that a large fraction of it is trapped during refining and transport, which may create Hg point sources between extraction and consumption.Keywords: mercury; natural gas; atmospheric emissions.
INTRODUÇÃOO mercúrio é um elemento presente naturalmente na crosta terrestre, na água, na biota e na atmosfera. Dentre as diferentes formas químicas do Hg, a espécie de distribuição mais ampla é o Hg 0 (vapor), predominante na atmosfera, o Hg 2+ , forma dominante em águas naturais e o metilHg, que é a forma de maior importância ambiental devido a sua elevada toxidez a organismos superiores, particularmente mamíferos. O metilHg é, em sua maior parte, produzido biologicamente por bactérias, como um mecanismo natural de detoxificação. Nos mamíferos, o metilHg acumula-se preferencialmente no sistema nervoso central devido à sua afinidade com aminoácidos, abundantes neste sistema, levando à disfunção neural e, eventualmente, à paralisia e morte. Quando assimilado, 95% da dose oral é absorvido pelo intestino para a corrente sanguínea, e para que 50% da dose ingerida seja excretada são necessários cerca de 70 dias. Desta forma, ocorre uma acumulação de Hg no organismo ao longo do tempo, mesmo com exposição relativamente baixa. A principal via de exposição humana ao metilHg é a ingestão de peixes, particularmente os carnívoros. Outras vias, como absorção cutânea, ingestão de água e outros alimentos, são possíveis, porém desprezíveis em relação à exposição através do consumo de peixes contaminados 1,2 . A metilação bacteriana do Hg ocorre através da atuação enzimática sobre a espécie Hg 2+ . Esta espécie é a forma dominante de Hg presente na deposição atmosférica úmida e seca. Esta espé-cie é resultante da oxidação do Hg 0 presente na atmosfera pela ação do oxigênio e ozônio, embora uma pequena fração possa ter sido emitida diretamente para a atmosfera sob esta forma. Portanto, a emissão de Hg 0 por fontes antrópicas pode resultar indiretamente em um incremento da deposição de Hg 2+ , aumentando sua disponibilidade para a metilação bacteriana [2][3][4][5][6] . Assim, é fundamental para a avaliação do risco potencial do Hg, a determinação das emissões antrópicas deste elemento, mesmo quando na forma de Hg 0 , forma dominante emitida pela queima de combustíveis fósseis e de biomassa. Dentre estes combustíveis, o gás natural, cuja utilização vem aumentando exponencialmente devido a sua abun...