A agricultura orgânica compreende um setor que vem crescendo acentuadamente no país nas últimas duas décadas, a partir de distintas vertentes de produção: ecológica empresarial e ecológica familiar (CANUTO, 1998). A primeira é representanda pela parcela de produtores que expandiu suas vendas para as grandes redes varejistas e o mercado internacional. A segunda abrange os produtores familiares, que focaram seus esforços na infraestrutura de pequenas propriedades e no mercado regional, aprimorando os sistemas de produção, as operações comerciais e a organização de agricultores através de grupos e/ou cooperativas (BAPTISTA DA COSTA, 2017;SAMBUICHI et al., 2017).Considerando a importância e as especificidades da produção orgânica familiar, a pesquisa de doutorado, em desenvolvimento, do primeiro autor propôs estudar o processo de trabalho nesse setor e suas incidências na subjetividade dos trabalhadores, em termos de sentido, cooperação e reconhecimento entre pares. Neste artigo, realiza-se um recorte do constructo sentido, discutindo-se os valores que conformam o sentido que os produtores atribuem ao trabalho.A partir da perspectiva da análise da atividade, observa-se que a agricultura orgânica complexifica a organização do trabalho e abrange constrangimentos que podem resultar em incômodos físicos e mentais para os trabalhadores (GEMMA, 2008;LOAKE, 2001). Em contrapartida, nesse sistema produtivo, o saber retorna ao agricultor, que reaprende a trabalhar com a terra e que, assim, goza de maior grau de autonomia para definir seu trabalhar, individual e coletivamente (RIBEIRO, 2011). Mas em que medida essas possibilidades implicam o sentido para os trabalhadores? Essa é a questão que esse artigo busca responder a partir abordagem da Ergonomia da Atividade (EA).
Algumas considerações teóricas
Trabalho e subjetividade na Ergonomia da AtividadeA Ergonomia da Atividade (EA) busca compreender a realidade de forma sistêmica e crítica, considerando os diversos determinantes das situações reais de trabalho (GÜÉRIN et al, 2001.;GONÇALVES;CAMAROTTO, 2015;CAMAROTTO, 2016). Este é compreendido como principal mediador entre as ordens singular e coletiva, o psíquico e o social SOBOLL, 2011;DEJOURS, 2000DEJOURS, , 2007; e os trabalhadores são lançados, individual e coletivamente, para o primeiro plano da análise (GÜÉRIN et al., 2001;WISNER, 1994a), concebidos como atores de seu processo de trabalho, saúde e desenvolvimento de