Programas específicos de inserção de estudantes imigrantes na UFFS

Abstract

Este texto é um estudo descritivo e exploratório que aborda a configuração e integração de estudantes imigrantes, mais especificamente os imigrantes haitianos, como política institucional de acesso e permanência ofertada pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). É relatada a experiência da instituição com os Programas Prohaiti e Pró-Imigrante. Os registros se baseiam em documentos institucionais, produções acadêmicas e relatos de experiências desses estudantes. Como resultados, observa-se que eles demonstram uma satisfação muito grande por estarem na universidade; porém, enfrentam muitos desafios provenientes tanto de questões culturais quanto de limitações decorrentes da sua condição econômica e social. Destaca-se que esses estudantes têm superado as inúmeras situações difíceis que vivenciam no dia a dia ao buscarem a educação superior.

Discurso Institucional E Hos(ti)pitalidade

“…Para compreender algumas das condições de produção do discurso institucional da UFFS, vale referir que os primeiros haitianos chegam em Chapecó em 2011, fazendo parte de intensos fluxos migratórios que se iniciaram logo após o terremoto ocorrido no Haiti em 2010 4 . A partir de então, foi possível notar "[...] na região, um novo cenário, formado pela presença de 'outros rostos', como os haitianos, senegaleses, sírios, dentre outros, com maior ênfase para os primeiros" (Peron;Cella;Bordignon, 2023, p. 78, grifos nossos). Interpretamos que esse fluxo migratório pode ser nominado pelo viés derridiano como um acontecimento, uma vez que "um dos traços do acontecimento não é somente que ele venha como o que é imprevisível, o que vem decifrar o curso ordinário da história, mas é também que ele é absolutamente singular" (Derrida, 2012, p. 236, grifo nosso).…”

“…A UFFS, instituição implantada recentemente, iniciou suas atividades em 2010 e traz em seu discurso institucional, desde o início, referências que buscam promover "[...] políticas de ingresso nos cursos de graduação que contemplem a inclusão de estudantes de escolas públicas, negros, indígenas e imigrantes" (Peron;Cella;Bordignon, 2023, p. 80, grifo nosso).…”

“…2024 Heterogeneidades discursivas: múltiplos olhares referentes a agosto/2021), com matrícula ativa nos diferentes cursos e campi da UFFS (UFFS, 2024) e, até essa data, 11 graduaram-se nos cursos de Administração (3); Agronomia (3); Ciências Sociais (1); Geografia (1); Matemática (3) (UFFS, 2022). Vale relembrar que a chegada dos primeiros haitianos em Chapecó data de 2011 e a resolução para ingresso desse público na UFFS é de 2013, o que revela como em um curto intervalo de tempo a universidade passa a olhar para esse público, uma vez que "A configuração presente no perfil regional é um fator que é levado em conta nas políticas e programas implementados na instituição" (Peron;Cella;Bordignon, 2023, p. 80).…”

“…A hospitalidade incondicional é marcada pelo inesperado da acolhida, pela impossibilidade da predefinição desse que vem. Contudo, passados alguns anos desde o acontecimento dos primeiros fluxos de imigrantes em 2011, "a presença de 'outros rostos'" (Peron;Cella;Bordignon, 2023, p. 78, grifos nossos) já não é mais algo singular em 2016. Já, a hospitalidade condicional, que é aquela oferecida somente "sob a condição de que o outro obedeça às nossas regras, nosso modo de vida, até mesmo nossa linguagem, nossa cultura, nosso sistema político" (Borradori;Derrida, 2004, p. 138), passa a predominar no discurso institucional de acesso ao ensino superior para os imigrantes haitianos.…”